Seleções do Midrash




Parashá Vayetsê
Yaacov viaja para Charan

Yaacov havia recebido instruções de seus pais para viajar a Charan para a casa de Lavan em busca de uma esposa. Decidiu ir primeiro à yeshivá de Êver estudar Torá. Yaacov permaneceu na yeshivá durante catorze anos e estudou com tanto afinco que permanecia desperto toda a noite estudando.
Finalmente, Yaacov viajou para Charan. Tinha quase chegado a Charan, quando se lembrou de um assunto importante: "Passei pelo monte de Moriyá! Pela sagrada montanha onde meu avô Avraham amarrou meu pai, Yitschac, ao altar e onde ambos costumavam rezar. E não me detive ali! Perdi a grande oportunidade de rezar num local sagrado onde é mais fácil para uma pessoa orar com todo seu coração e onde D'us aceita prontamente suas preces."
Yaacov não era preguiçoso. Decidiu, pois, fazer todo o longo percurso de volta para rezar sobre o monte de Moriyá. Como recompensa pelo seu esforço, D'us milagrosamente moveu o monte de Moriyá em direção a Yaacov, tornando-lhe mais curto o caminho.

Nossos Sábios nos contam: D'us milagrosamente encurta o caminho

Como lemos na Parashá Chayê Sara, o servo de Avraham, Eliêzer, viajou para Charan em busca de uma esposa para Yitschac. Eliêzer chegou a Charan no mesmo dia em que partiu da Terra de Israel, apesar da viagem de Israel a Charan geralmente durar vários dias. D'us encurtou sua viagem para ajudá-lo a encontrar mais rápido uma esposa para Yitschac.
E, como acabamos de explicar, Yaacov viajou de volta ao monte de Moriyá e D'us ajudou-o a chegar lá rapidamente.
Por que D'us realiza um milagre encurtando o caminho? Porque o tsadic (justo) não se mostra preguiçoso e é o primeiro a empreender o esforço.
Um judeu deve esforçar-se em prol de um objetivo elevado - tornar-se grande no estudo de Torá e no cumprimento das mitsvot. O principal é se esforçar ao máximo. D'us vê quando uma pessoa se empenha seriamente e a ajuda a alcançar o seu propósito.

Yaacov adormece no monte de Moriyá e tem um sonho profético

Quando Yaacov chegou ao monte de Moriyá, rezou naquele local, e quis partir após terminar a reza, pois o dia ainda estava claro, e poderia continuar viagem.
Quando estava prestes a partir, a luz do sol desapareceu subitamente, envolvendo-o na escuridão, de maneira que não poderia seguir viagem.
D'us queria revelar-se a Yaacov num sonho profético. Para isso, fez com que o sol se pusesse mais cedo, a fim de detê-lo para pernoitar no monte de Moriyá.
Yaacov, então preparou-se para dormir: como não tinha acomodações no monte de Moriyá, teria de passar a noite no campo. Juntou doze pedras e as colocou em torno de sua cabeça para afastar animais selvagens. Uma das pedras pôs sob a cabeça como travesseiro. Então adormeceu.
(É um fato extraordinário que Yaacov adormeceu tendo o campo como cama, e uma pedra como travesseiro. Apesar dos perigos da jornada, Yaacov dormiu pacificamente, por causa de sua grande e inabalável fé em D'us. Sua devoção à D'us era tão profunda que sua precária situação não o pertubava.)
Sem saber, Yaacov usara as dozes pedras do altar construído por Avraham quando levou Yitschac para o monte de Moriyá.
Enquanto Yaacov dormia, cada pedra pedia: "Quero que o tsadic Yaacov descanse sua cabeça sobre mim!"
Milagrosamente, as pedras foram se aproximando para mais perto da cabeça de Yaacov de tal modo que se fundiram numa só pedra.
Desta maneira, D'us deu a entender a Yaacov que seus doze filhos iriam, juntos, fundar uma nação sagrada, o povo judeu.

O profético sonho da escada de Yaacov

Naquela noite, D'us revelou-se a Yaacov num sonho profético. Sua intenção era fortalecer Yaacov, assegurando-lhe que a ajuda Divina permearia todos os futuros eventos.
Yaacov viu no sonho uma longa escada apoiada no chão, cujo topo se estendia céu adentro. Havia anjos - os anjos de Israel que haviam cuidado de Yaacov até o momento - que subiam a escada, voltando para o céu. Em seu lugar, outros anjos desciam a escada. Estes eram anjos que vieram acompanhar Yaacov fora de Israel e protegê-lo na casa de Lavan (Labão).
Logo depois, o Próprio D'us apareceu a Yaacov em sonho e prometeu-lhe:
"Irei protegê-lo pelo seu caminho e na casa de Lavan até você retornar em segurança para Terra de Israel."
Yaacov teve também uma visão na qual D'us dobra a terra toda de Israel e coloca-a sob sua cabeça, tal como se alguém dobrasse um mapa. Sua cabeça agora repousava sobre a terra, em sua totalidade. Isto simbolizava que a posse de Israel será concedida a Yaacov, e que seus descendentes conquistá-la-ão facilmente.
Quando Yaacov acordou, exclamou:
"Se soubesse que este era um lugar tão santo, não teria ousado dormir aqui! Prevejo que exatamente neste local será construído o Bet Hamicdash (Templo Sagrado). Os judeus irão rezar e oferecer sacrifícios aqui. Suas preces e o agradável odor dos sacrifícios subirão direto a D'us e Ele os aceitará. Este é o portal de entrada para o Céu."
Yaacov então prostrou-se e fez uma promessa: "D'us, se Você permanecer comigo durante todo o meu caminho, guardar-me e proteger-me, para que retorne à casa de meu pai íntegro física e espiritualmente, oferecerei-Lhe-ei sacrifícios. Se Você prover-me meu pão para comer, e roupas para vestir, prometo-Lhe dar o dízimo de tudo o que Você me der!"
Yaacov, o tsadic, pediu a D'us que lhe provesse apenas as necessidades vitais, e não o luxo.

Yaacov encontra Rachel junto ao poço

Antes de Yaacov sair de casa, sua mãe Rivca revelou-lhe:
"Sei onde você irá encontrar sua futura esposa - junto ao poço. Se você vir uma moça junto ao poço que é filha de meu irmão Lavan e se parece comigo, é a moça com quem D'us deseja que você se case."
Quando Yaacov chegou ao poço de Charan, havia muitos pastores ao seu redor. Uma enorme pedra cobria o poço. Todos os pastores da vizinhança juntos tinham que rolar a pedra que cobria a abertura do poço para conseguir extrair sua água.
O poço fora propositadamente coberto com uma enorme pedra pois, àquela época, todas as outras fontes de água da cidade estavam contaminadas, e a cidade inteira dependia deste poço de água. Assim, os habitantes decidiram colocar uma pedra na boca do poço, para limitar o acesso. Só seria possível obter água em determinados momentos, depois da rocha ter sido removida através dos esforços unidos de todos os pastores.
Yaacov perguntou aos pastores:
"Vocês conhecem Lavan?" Eles apontaram para uma jovem que se aproximava com suas ovelhas: "Esta é a filha de Lavan, Rachel," disseram a Yaacov.
Enquanto conversavam, Rachel surgiu, com o rebanho de Lavan. D'us enviou Rachel, para que se encontrasse com Yaacov, uma vez que estava destinada a ser seu par.
Em certos casos, a predestinada esposa viaja para encontrar o marido. Em outros, o marido viaja para encontrá-la. Não importa de que maneira isso aconteça, eles devem encontrar-se, se assim foi decretado pelo Céu.

Uma história: A princesa e o mendigo

O rei Salomão (Shelomô) tinha uma filha de inigualável beleza. Ele previu que o futuro cônjuge seria um pobre, da classe mais miserável e destituída de todos os bens materiais.
Salomão ordenou que um castelo fosse construído numa ilha distante, e que sua filha fosse levada para lá. Cercou o castelo com setenta guardas armados, trancou todas as entradas, e mandou os soldados permanecerem em estado de alerta dia e noite para que ninguém entrasse. O rei disse: "Deixe-me ver como D'us guia o mundo!"
Numa cidade longínqua, um pobre perambulava a pé no meio da noite. Estava faminto, sedento, descalço, e não tinha um lar onde passar a noite. De repente, percebeu num campo a carcaça de um touro. Feliz por ter encontrado um local para abrigar-se do frio, o homem acomodou-se, encolhido entre as costelas, cobriu-se com a pele, e logo adormeceu.
Uma gigantesca ave de rapina investiu e arrebatou a carcaça, carregando-a pelo céu em direção ao oceano. A ave de rapina voou até o topo do castelo da ilha, pousou a carcaça com o homem dentro, devorou a carne sobre a carcaça e voou.
No dia seguinte, quando a moça estava em seu passeio matinal, admirou-se ao encontrar um homem. Perguntou-lhe quem era e como chegara lá, a despeito dos guardas postados ininterruptamente junto aos portões.
"Sou um judeu da cidade de Aco," esclareceu-lhe, "e uma ave de rapina trouxe-me até aqui." Ela convidou-o a entrar no castelo, deu-lhe comida e roupas, e conversaram. Ela descobriu que ele era um sofêr (escriba), e um homem estudado. Quando perguntou-lhe se queria casar-se com ele, concordou de boa vontade. O rapaz não tinha pena e tinta para escrever o contrato matrimonial, por isso cortou-se e escreveu o contrato com seu próprio sangue, dizendo: "Os anjos Gavriel e Michael são nossas testemunhas."
O tempo passou, e a moça ocultou a presença do marido, temendo que seu pai pudesse opor-se ao matrimônio. Um dia, porém, os guardas ouviram o inconfundível choro de um bebê no castelo. Vasculharam o castelo, encontrando o marido e filho. Os guardas ficaram mortalmente pálidos, com medo da ira real. Enviaram-lhe uma mensagem, apressando-o a ir para a ilha. O rei Salomão embarcou num navio e navegou com destino à ilha, para visitar sua filha.
"Nosso mestre, o rei!" - suplicaram-lhe os guardas. "Não nos puna pelo ocorrido, pois não somos culpados!"
Salomão chamou sua filha e o marido, que lhe mostrou o contrato matrimonial que escrevera. Salomão inquiriu-o a respeito de sua família e cidade de origem, e compreendeu que este era o homem que havia sido predestinado à sua filha. Cheio de júbilo, Salomão gritou: "Bendito é o Todo Poderoso que para sempre une o marido à sua esposa, que são destinados um ao outro!"

O encontro de Yaacov com Rachel

Yaacov aproximou-se do poço para ajudar sua prima Rachel a dar de beber às ovelhas. Mas o poço estava coberto por aquela rocha enorme. Yaacov não pediu ajuda a ninguém. Apesar de estar cansado pela viagem e fraco por ter estudado na yeshivá de Êver durante catorze anos, sua força era maior do que a de todos os pastores juntos. Rolou a enorme pedra, sozinho, com a mesma facilidade com que alguém retira a tampa de uma garrafa. Imediatamente, a água do poço aflorou e transbordou, irrigando todos os campos. A chegada de Yaacov trouxe bênção para a cidade.
Yaacov ajudou Rachel a dar água às ovelhas. Apresentou-se a ela dizendo: "Sou seu primo, minha mãe é irmã de seu pai."
Yaacov percebeu que o fato das águas do poço terem subido à tona era um sinal de D'us indicando que Ele enviou-lhe seu par.
Os pastores observaram como Yaacov (que consideravam um estrangeiro, não sabendo que era primo de Rachel) aproximou-se de Rachel e beijou-a.
Eles olharam fixamente, e admiraram-se: "Ele veio aqui para ensinar-nos imoralidade?" - escarneceram.
Yaacov chorou. Ficou magoado por ter sido falsamente acusado de pensamentos impuros com o beijo, que fora motivado exclusivamente por motivos espirituais, significando uma saudação a um parente. Ele chorou, contudo, também por uma razão mais profunda: porque naquele momento, o Ruach Hacôdesh, o espírito da profecia, pairou sobre Yaacov, e ele previu que Rachel morreria jovem, e não seria enterrada junto com ele. Além disso, Yaacov chorou porque chegara à casa de Lavan de mãos vazias. Lembrava-se muito bem de que Eliêzer trouxera dez camelos carregados de preciosos bens quando foi encontrar uma esposa para Yitschac. Yaacov temia que Lavan se recusasse a dar sua filha a um pobre, e portanto toda a viagem teria sido em vão.
Yaacov explicou a Rachel o propósito de sua vinda à casa de Lavan e perguntou-lhe: "Quer se tornar minha esposa?"
"Sim," respondeu Rachel, "mas meu pai Lavan enganará você. Todos sabem que ele é um trapaceiro. Tentará dar-lhe minha irmã mais velha, Lea, no meu lugar."
"Não se preocupe," tranquilizou-a Yaacov. "D'us me ajudará. Vamos agora combinar sinais que você transmitirá quando eu lhe pedir uma prova de que é Rachel." E ele lhe disse algumas coisas que somente ela saberia. Yaacov ensinou a Rachel, para que utilizassem como sinais, as três mitsvot que pertencem especificamente às mulheres: separar uma porção da massa (chalá), pureza familiar e acender as velas de Shabat.
Rachel correu para casa e informou seu pai Lavan. "Um primo nosso que é neto de Avraham chegou."
Lavan era um homem malvado. Pensou: "A família de Avraham é muito rica. Este primo certamente deve ter trazido objetos muito valiosos. Deve ter ouro, prata e pérolas. Vou tomá-los dele."
Lavan correu para fora. Ao ver Yaacov parado junto ao poço, perguntou a si mesmo: "Onde estão seus camelos e servos? Por que está aqui sozinho? Bem, provavelmente tem pilhas de ouro e prata em seu cinturão."
Lavan abraçou Yaacov, fazendo crer que estava muito contente com a chegada de seu parente. Mas, sem que Yaacov percebesse, secretamente, apalpou com a ponta dos dedos para ver quanto dinheiro Yaacov levava no cinturão por debaixo da roupa. Mas não conseguiu achar nenhum cinturão com dinheiro.
"Como pode ser?" - pensou Lavan. "Onde ele guarda o dinheiro? Talvez esteja escondendo pedras preciosas na boca?"
Lavan beijou Yaacov como demonstração de amizade. Na verdade, estava tentando sentir se Yaacov tinha alguma gema na boca. Mas a boca de Yaacov nada continha além de seus dentes e sua língua.
Yaacov explicou a Lavan:
"Saí de casa sozinho, sem servos ou camelos porque fugi de meu irmão Essav, que queria me matar. No caminho, o filho de Essav, Elifaz, correu atrás de mim e roubou todo meu dinheiro."
O mau e avarento Lavan ficou desapontado por Yaacov ser tão pobre. "Apesar de tudo, deixá-lo-ei ficar em minha casa por ser meu parente", disse ele.

O Midrash nos conta: Como Yaacov foi perseguido ao deixar Charan

Yaacov deixou Charan secretamente a fim de fugir de seu irmão Essav. Este, porém, escutou a notícia da partida de Yaacov. Ordenou a seu filho Elifaz que perseguisse e matasse Yaacov, por ter-lhe roubado as bênçãos.
Essav persuadiu Elifaz: "Meu filho, se você matar Yaacov, recuperará o direito da primogenitura!" Contudo, Elifaz hesitou e pediu a opinião de sua mãe Ada: "Meu filho," aconselhou-o, "não tente matar Yaacov. Ele é mais forte que você e o matará. Se seu perverso pai não temesse que Yaacov pudesse matá-lo, ele mesmo poderia persegui-lo, em vez de delegar-lhe essa missão!"
Ainda assim, Elifaz não ousava ignorar completamente as ordens do pai. Perseguiu Yaacov e atacou-o; porém não o matou. Uma vez que Elifaz crescera sob a tutela de seu avô Yitschac, não levantaria as mãos contra Yaacov. Em vez de matá-lo, roubou-o, despojando-o de todas suas posses. Isto porque um pobre é comparado a um morto. Ele até despiu Yaacov, deixando-o miserável e nu.
Yaacov imergiu no rio e clamou por D'us. Imediatamente, apareceu um cavaleiro. Galopando em seu corcel, queria atravessar o rio; mas caiu na água e afogou-se. Yaacov pegou as roupas do homem recém-falecido, lavou-as no rio e vestiu-as.

Yaacov pede a mão de Rachel e recebe Lea

Yaacov cuidou das ovelhas de Lavan durante o mês que permaneceu na casa como hóspede. Então Lavan lhe perguntou: "Que pagamento você quer para trabalhar para mim?"
Yaacov respondeu: "Tens duas filhas; Lea e Rachel. Dá-me sua filha mais nova, Rachel, por esposa. Trabalharei por ela durante sete anos."
Lavan concordou, mas apenas da boca para fora. Pensou: "Depois que os sete anos de serviço terminarem, dar-lhe-ei Lea como esposa."
Quando chegou o dia do casamento, Lavan disse à sua filha mais velha, Lea:
"Quero que você se case primeiro. Vista-se como noiva. Quando Yaacov descobrir que você é Lea, será tarde demais. Já estará casado!"
Lavan convidou todo os habitantes de Charan para uma grande e alegre festa de casamento.
Rachel sabia do plano malvado de seu pai Lavan. Pensou: "Será que eu deveria mandar uma mensagem para Yaacov para que fique sabendo que meu pai o está enganando? De qualquer modo, Yaacov vai descobrirá a verdade, pois fará a Lea as perguntas para as quais me deu as respostas. Ela não as saberá e então Yaacov descobrirá que Lavan o enganou, dando-lhe a noiva errada.
"Como Lea vai ficar envergonhada quando Yaacov descobrir que ela não é a noiva que ele quer!"
Rachel se apiedou da irmã e não quis que ela sofresse tamanha humilhação. Por este motivo, transmitiu a Lea a informação secreta que Yaacov havia lhe confiado. Raquel era uma verdadeira tsadeket! Estava disposta a desistir de seu futuro marido e deixar sua irmã casar com ele; tudo para poupar Lea da vergonha. Na verdade, podemos aprender com Rachel quão cuidadosos devemos ser para evitar que alguém envergonhe outra pessoa.
O casamento foi alegre. Yaacov não descobriu o truque porque Lea usava um véu e soube dar todas as respostas às suas perguntas. Yaacov só descobriu a trama na manhã seguinte. Ficou muito zangado com Lavan. "Por que você me enganou?" - perguntou-lhe. "Havíamos combinado claramente que eu casaria com Rachel!"
"Em Charan é nosso costume casar primeiro a filha mais velha e depois a mais nova," desculpou-se o perverso Lavan. "Dar-lhe-ei Rachel como esposa daqui a uma semana, só que trabalhará para mim durante mais sete anos."
Uma semana depois, Yaacov casou-se com Rachel.
Por que D'us permitiu que Lavan levasse a cabo seu ardiloso plano para enganar Yaacov? D'us quis recompensar Lea tornando-a esposa de Yaacov, porque durante muitos anos ela implorou a D'us para que pudesse se casar com um tsadic.
Essav e Yaacov nasceram ao mesmo tempo em que as duas filhas de Lavan. Lavan e Yitschac corresponderam-se, combinando que o filho mais velho de Yitschac seria destinado à filha mais velha de Lavan, e o filho mais novo à filha mais nova. Quando Lea cresceu, indagou: "Que tipo de homem é Essav?"
"É um ladrão e assaltante," disseram-lhe.
Lea desabafou o coração a D'us, suplicando-Lhe que deixasse tornar-se esposa de um tsadic. Enquanto rezava, chorava tanto que seus olhos intumesceram.
Quão poderoso é o efeito da oração! As preces de Lea não apenas ocasionaram que ela se casasse com Yaacov em vez de Essav, porém mais que isto: ela casou-se com ele antes mesmo que sua irmã!
"Como você pôde fingir ser Rachel e responder-me quando chamei seu nome?" - perguntou Yaacov com raiva de Lea.
Ela replicou: "Sou sua aluna. Aprendi com você como fazê-lo. Você não foi até seu pai, vestido como Essav, e quando seu pai chamou-o de Essav, você respondeu? Apenas imitei-o." Na resposta estava implícito: "Assim como você agiu fraudulentamente com intenções nobres, sabendo que este era o passo correto a dar, assim também o fiz."
Apesar de Lavan tê-lo enganado, Yaacov continuou a servi-lo pelos próximos sete anos com o mesmo trabalho duro e honestidade com que servira antes. Ele não era como a maioria das pessoas, que começam um novo emprego com entusiasmo, mas depois ficam negligentes. O último ano de serviço de Yaacov foi realizado com a mesma dedicação e vigor que o primeiro. De fato, Yaacov cumpria suas obrigações como pastor a tal nível de perfeição que durante todos os catorze anos de trabalho, nem uma vez se deitara para dormir uma noite inteira.
Enquanto pastoreava o rebanho, tinha tempo para dirigir seus pensamentos a D'us. Durante aquele período, compôs muitos capítulos do livro de Tehilim (Salmos), tornando-se um dos autores deste livro. Ulteriormente, as canções que Yaacov compôs foram esquecidas, e escritas novamente numa época posterior pelo rei David.

As mulheres de Yaacov dão à luz onze filhos

Assim que Lea casou-se com Yaacov, D'us imediatamente deu-lhe filhos, mas Rachel teve que esperar sete anos pelo seu primeiro filho.
Lea deu à luz quatro filhos homens, um após o outro: Reuven, Shimon, Levi e Yehudá. Enquanto isso, Rachel estava muito preocupada por não ter filhos.
Rachel pensou: "Por que minha irmã dá à luz, enquanto eu, não tenho filhos? Deve ser porque ela é mais virtuosa que eu!"
Disse a Yaacov: "Dê-me filhos, ou morrerei!"
Yaacov repreendeu-a: "Sua afirmação não é verdadeira. Mesmo que você tenha filhos, não obstante um dia morrerá."
Rachel respondeu: "Referia-me à morte espiritual. A não ser que tenha filhos seus e ajude a construir a nação judaica, perderei minha porção no mundo vindouro! Reze por mim!"
Yaacov zangou-se com suas palavras e respondeu: "Acaso estou no lugar de D'us, que negou-lhe filhos? Por que você me pede para rezar? Reze a D'us você mesma! Tenho filhos. É a você que D'us os negou!"
D'us não concordou com a resposta de Yaacov e o censurou: "É esta a maneira apropriada de falar com uma mulher estéril angustiada?"
Rachel argumentou: "Seu avô Avraham, apesar de já ter um filho de outra mulher, Hagar, rezou para que Sara fosse abençoada com filhos!"
"É verdade. Mas você faria o que minha avó Sara fez? Traria outra mulher para dentro de casa?"
"Concordo em dar-te minha criada Bil'há como esposa, se eu for abençoada com filhos em mérito deste ato."
Bil'há era filha de Lavan com uma concubina. Quando Yaacov casou-se com Lea e Rachel, Lavan deu-lhe também outras duas filhas suas para servirem-nas. Para Rachel, deu Bil'há, sua filha mais velha; e para Lea deu Zilpá, sua filha mais nova. Todas as quatro, Lea, Rachel, Bil'há e Zilpá eram irmãs.
Yaacov aceitou a idéia de Rachel. Libertou Bil'há de seu status de criada, concedendo-lhe pleno status de uma esposa, e então casou-se com ela.
Bil'há deu à luz dois filhos, um após o outro, Dan e Naftali.
Quando Lea viu que ela não teve mais filhos, pediu a Yaacov que se casasse com Zilpá, a quem Lavan tinha lhe dado como criada.
Zilpá deu à luz dois filhos, um após o outro, Gad e Asher.
Depois do nascimento de Asher, Lea teve mais três filhos, um após o outro, Yissachar e Zevulun, e uma menina, Dina.
Quando Lea estava grávida do sétimo filho, orou a D'us: "Mestre do Universo! Sei que doze tribos nascerão de Yaacov. Já tenho seis filhos, Bil'há e Zilpá deram à luz quatro. Se esta criança for um menino, a porção de minha irmã Rachel na nação judaica será de apenas um filho, menos que a cota das criadas!" Em conseqüência de sua prece, D'us mudou o sexo da criança que ela carregava de masculino para feminino. Ao nascer-lhe uma filha, Lea chamou-a de Dina, aludindo ao fato de que ela pronunciara julgamento sobre si mesma, e decidira que esta criança deveria ser uma menina. (Dina vem de din, julgamento.)
Rachel implorara persistentemente a D'us para que lhe conceda um filho, desde que Yaacov censurou-a. Yaacov, Lea, Bil'há e Zilpá uniram-se a ela em suas preces. Em Rosh Hashaná, o Dia da Lembrança, quando D'us examina os registros de cada ser humano, D'us julgou Rachel e decretou que era merecedora de ter um filho.
Quando este nasceu, Rachel afirmou: "D'us removeu minha desgraça. Até agora, as pessoas insultavam-me, dizendo: 'Se ela fosse realmente virtuosa, teria filhos!'". Chamou-o de Yossef, pois sabia, através de profecia, que mais um filho nasceria, para completar o número de tribos. Portanto, exclamou: "Possa o último a ser acrescido nascer de mim!' (Yossef vem do radical hossif / acrescentar.)
Na próxima parashá, Rachel terá mais um filho, que se chamará Binyamin.
 
As mães das doze tribos

Lea: Reuven, Shimon, Levi, Yehudá, Yissachar, Zevulun e Dina.
Rachel: Yossef e Binyamin
Bil'ha: Dan e Naftali
Zilpá: Gad e Asher 

O significado dos nomes dos filhos de Yaacov

REUVEN - Lea afirmou: "D'us viu minha aflição, pois agora meu marido me amará." (Reuven deriva da palavra reê / ver).
SHIMON - Lea disse: "D'us ouviu que sou odiada, e assim também me deu este." (O nome Shimon deriva do radical shamá / ouviu.)
Quando o terceiro filho de Lea nasceu, uma voz celestial é que proclamou: "O nome dele será LEVI!". Levi significa: "Seus descendentes serão premiados por D'us com os vinte e quatro presentes do sacerdócio!" Lea, porém, explicou o nome como significando: "Agora meu marido ligar-se-á a mim." (Levi é aqui derivado de liva / ligado.)
YEHUDÁ - Quando Lea deu à luz a seu quarto filho, exclamou: "Agora devo louvar D'us!" Sabia que Yaacov geraria doze tribos. Acreditava que cada uma das quatro esposas tinha uma cota equivalente, e lhe daria três filhos. "Agora, contudo, D'us me deu um quarto filho, o que é mais que minha cota!" Assim, ela chamou-o de Yehudá, que demonstra gratidão: "Agora louvarei e agradecerei D'us!" (Yehudá vem do radical hodaá / agradecimento.)
DAN - filho de Bil'há recebeu seu nome de Rachel, que afirmou: "D'us julgou-me (dan significa julgar) e achou que não sou merecedora de filhos; porém agora Ele ouviu-me e deu-me um filho através de minha criada!"
NAFTALI - filho de Bil'há também recebeu seu nome de Rachel, que disse: "Ofereci preces a D'us (Naftali vem do radical tefilá / prece), que agradaram-No. Minhas orações foram aceitas e respondidas como as de minha irmã." Rachel proclamou que foi agraciada com este filho (através de Bil'há) por causa de suas preces constantes.
GAD - filho de Zilpá, foi chamado assim por Lea, que afirmou: "Boa sorte veio ao mundo!" (gad significa mazal, sorte). Ela viu profeticamente que Gad terá êxito em assuntos bélicos, e assim ajudaria a todas as outras tribos.
Zilpá deu à luz a mais um filho que recebeu o nome ASHER, pois Lea exclamou: "Afortunado é aquele que tem um filho como este!" (Asher vem da raiz ashrê / afortunado).
Apesar de todas as matriarcas terem vivido em prol da construção das tribos de Israel, Lea demonstrou uma vontade grande para contribuir com seu máximo e empenhou-se em aumentar o número de filhos a nascerem dela. Como recompensa, D'us deu-lhe mais dois filhos.
YISSACHAR - cujo nome significa: "D'us recompensou-me por Ter dado minha criada a meu marido." (Yissachar vem de sachar / recompensa) e ZEVULUN, que significa: "De agora em diante, o lar de meu marido será comigo, uma vez que tenho tantos filhos quanto as outras esposas juntas!" (Zevulun deriva de zevul / local de moradia.)
 
Lavan tenta enganar em seu pagamento

Depois que Rachel deu à luz Yossef, D'us ordenou a Yaacov: "Volte para Terra de Israel."
Yaacov pediu a Lavan: "Dê-me permissão para partir com minhas mulheres e filhos."
"Por que," perguntou Lavan, "quando seus outros filhos nasceram, você não mencionou nada sobre partir, mas agora, após o nascimento de Yossef, você deseja partir?"
"Porque," replicou Yaacov, "Sei que Yossef tem o poder de superar Essav. Portanto, agora estou apto a partir e enfrentar meu irmão."
Lavan replicou: "Primeiro diga-me qual o salário que devo lhe pagar. Você trabalhou para mim durante vinte anos, dos quais, catorze por Rachel e Lea. Portanto, devo-lhe o pagamento correspondente a seis anos extras durante os quais você guardou minhas ovelhas. Quanto lhe devo?"
Yaacov respondeu: "Deixe-me levar todas as cabras que nascerem com manchas no pêlo e todas as ovelhas que nascerem de cor marrom."
"Muito bem!", pensou Lavan, "Yaacov certamente ficará com poucas ovelhas e cabras por servir-me durante seis anos.'
Mas uma coisa estranha aconteceu! Naquele ano, quase todas as novas cabras nasceram manchadas e quase todas as ovelhas tinham a cor marrom! D'us fez com que Yaacov obtivesse o pagamento que merecia.
Um anjo de D'us apareceu a Yaacov em sonho, mostrando-lhe como cabritos e carneiros nascem com as marcas que a pessoa deseja. Yaacov sobrepujou Lavan, usando bastões descascados e raiados, induzindo as mães a darem à luz carneiros deste tipo.
Lavan ficou com inveja ao ver a quantidade de animais que Yaacov tinha.
"Cometi um erro", disse a Yaacov. "Na verdade, queria os recém-nascidos manchados e marrons para mim. Escolha outra recompensa."
"Se assim você prefere," disse Yaacov, "Ficarei com todos os animais que nascerem com listas brancas em seus corpos."
"Muito bem, que seja este seu pagamento," concordou Lavan.
Daí em diante, quase todos os animais que nasceram tinham listras brancas.
Lavan ficou irritado. "Este acordo foi um equívoco," disse ele para Yaacov. "Vamos mudá-lo."
Lavan mudou de opinião cem vezes porque queria enganar Yaacov em seu pagamento. Mas D'us ajudou Yaacov. No final, Yaacov tornou-se muito rico, apesar dos planos maldosos de Lavan

Yaacov foge da casa de Lavan

Yaacov percebeu que Lavan não o deixaria levar suas esposas de volta a Êrets Yisrael. Portanto, Yaacov esperou, até o dia que Lavan viajou por três dias.
Então, com suas esposas e filhos, deixou a casa levando consigo todos seus pertences.
Antes de partir, Rachel entrou no quarto de seu pai, Lavan, e juntou todos os seus ídolos. "Deixe-me tirá-los daqui," pensou ela, "assim ele não mais poderá adorá-los."
Logo Lavan ficou sabendo que Yaacov e suas filhas haviam fugido secretamente e ficou furioso.
"Vou persegui-los e castigá-los," pensou.
Mas D'us apareceu a Lavan num sonho e o advertiu: "Não se atreva a fazer qualquer mal a Yaacov!"
Lavan logo alcançou Yaacov e o repreendeu: "Por que escapaste em segredo de minha casa?"
"Temia que não deixasse levar minhas esposas comigo." explicou Yaacov.
Lavan também perguntou: "Por que roubaste meus ídolos?"
Yaacov não tinha a menor idéia de que Rachel havia levado os ídolos do pai e respondeu: "Pode procurar em todos meus pertences! Não pegamos nada seu."
Lavan começou a procurar seus ídolos. Rachel os havia escondido na sela de seu camelo. Quando o pai foi procurar em seus pertences, ela sentou-se sobre o camelo e desculpou-se: "Sinto muito, desculpe-me por não me levantar para você. Não me sinto muito bem."
Lavan procurou e procurou, mas não achou seus ídolos.
Yaacov ficou irado com Lavan e o repreendeu: "Eu lhe disse que não pegamos nada seu. Porque não acredita em mim? Por que insiste em revistar nossos pertences? Você bem sabe quão fielmente guardei suas ovelhas durante vinte anos e quão duro trabalhei, dia e noite, para ter certeza de que seus rebanhos estavam em perfeita segurança. O sol me castigava durante o dia e à noite o frio gelado me fazia tremer. Mas nunca deixei suas ovelhas sozinhas. Nenhuma só vez deixei que um leão ou lobo arrebatassem uma de suas ovelhas. Mesmo assim, você continuou me enganando no salário. Se não fosse pela ajuda de D'us, eu teria deixado sua casa de mãos vazias, sem dinheiro nem animais."
Lavan sabia que Yaacov falava a verdade, por isso tentou acalmá-lo. "Não te preocupes," desculpou-se Lavan. "Quando saí em seu encalço, não tencionava fazer dano algum a suas mulheres e seus filhos. Afinal de contas, são minhas filhas e netos. Eu os segui apenas para ver minhas filhas e netos, para beijá-los e me despedir deles. Agora, selemos um tratado de amizade."
Naturalmente, Lavan, o trapaceiro, inventou esta desculpa para encobrir suas más intenções. Quando correu atrás de Yaacov, na realidade tinha em mente destruir a família inteira, incluindo suas próprias filhas. Mas como D'us o prevenira para que não se atrevesse a fazer-lhes mal, ele nada podia fazer a não ser fingir que queria fazer um tratado de amizade.
Yaacov concordou em fazer um acordo com Lavan.

Yaacov e Lavan fazem um acordo de amizade

Yaacov levantou uma enorme pedra sem ajuda (Yaacov era um homem muito forte) e colocou esta pedra como um pilar. Virando-se para os filhos, Yaacov então ordenou: "Juntaremos também muitas pedras e faremos uma pilha."
Juntaram uma quantidade de pedras e puseram-nas em forma de monte junto ao pilar, formando, além do pilar, uma pilha de pedras.
Depois de comerem ao lado das pedras empilhadas, Yaacov e Lavan se levantaram e prometeram um ao outro: "O pilar e a pilha de pedras serão testemunhas para sempre, e nos farão lembrar, a nós e nossos filhos, para que nunca façam mal uns aos outros. Se algum de nós ou de nossos descendentes viajar para a terra do outro com intenção de fazer mal, passará defronte ao pilar e pela pilha de pedras no caminho. Elas serão lembretes de nosso acordo de amizade."
Lavan então voltou para sua casa em Charan, enquanto Yaacov viajou para Terra de Israel.

Anjos vão ao encontro de Yaacov quando ele entra em  Israel

Quando Yaacov e sua família entraram em Israel, notaram um grupo de homens marchando ao seu encontro. Yaacov ficou com medo. Seria por acaso o exército de Essav? Ou teria Lavan mandado um grupo de pessoas para prendê-lo? Mas quando eles chegaram mais perto, Yaacov percebeu que era um grupo de anjos sagrados enviados por D'us. D'us mandara anjos para proteger Yaacov de seus inimigos em Israel. Os anjos que o acompanharam fora de Israel agora iam embora.
Yaacov estava feliz porque D'us o estava protegendo, especialmente agora que se aproximava de seu irmão Essav, a quem ainda temia.
Por que Yaacov mereceu uma recepção tão grande das hostes celestiais?
Yaacov passou vinte anos inteiros na casa de Lavan, o feiticeiro e idólatra, que estava na fonte de todos os poderes de impureza e escuridão daquela época. A despeito da predominante atmosfera de impureza, Yaacov sobrepujou completamente o mal, mesmo na casa de Lavan. Quando retornou, era o mesmo homem virtuoso de quando partira, espiritualmente perfeito. Por isso, foi recebido pelas hostes da Divindade.
Mais tarde, Yaacov testemunhou acerca de si mesmo: "Morei com Lavan, porém mesmo assim cumpri todas as seiscentas e treze mitsvot!"
Por sua extraordinária realização, Yaacov certamente mereceu a honra de ser bem-vindo por dois grupos de anjos.


Parashá Toledot
Os gêmeos diferentes

Ter um filho! Um filho a quem eles pudessem ensinar e educar para se tornar um verdadeiro servo de D'us! Este era o maior anseio e a prece de Yitschac e Rivca durante muitos longos anos.
Rivca estava casada com Yitschac há vinte anos, porém ainda não tinham filhos. Visitaram, então, o monte de Moriyá, o mesmo local onde Avraham elevou Yitschac sobre o altar.
Ambos, Yitschac e Rivca, oraram. Yitschac rezou: "D'us, faça com que os filhos que me darás nasçam desta virtuosa mulher!". Rivca rezou: "D'us, faça com que os filhos que me concederás sejam deste tsadic!". A oração de Yitschac foi aceita, e Rivca engravidou.
Agora, finalmente, Rivca teria um filho.
Durante a gravidez, Rivca tinha dores de tal intensidade que pensava que certamente iria morrer. Sentia como se duas forças travassem batalha em seu útero, tentando matar uma a outra. Ao passar por uma casa de estudos ou de orações, sentia movimentos internos naquela direção. Ao passar por um templo de idolatria, havia outro movimento, desta vez nesta direção.
(Apesar de Yaacov e Essav estarem no útero de Rivca, e ainda não possuírem mentes próprias, suas inclinações naturais já se manifestavam, mesmo antes do nascimento).
Confusa, Rivca perguntou à outras mulheres: "Vocês já sentiram algo parecido quando estavam grávidas?"
"Não", retrucaram.
Por isso, foi consultar Shem, filho de Nôach, um profeta de D'us e lhe perguntou: "Podes me dizer por que sofro dores tão fortes?"
O profeta respondeu em nome de D'us:
"Não temas!," explicou ele. "Estás carregando gêmeos em teu ventre. Eles lutam entre si. Um dia, o mais velho servirá ao mais novo, mas não quer servi-lo. Por isso, brigam dentro de ti."
Quando os gêmeos nasceram, eram completamente diferentes. A cabeça e o corpo do gêmeo mais velho eram tão peludos que parecia vestir um casaco. Sua pele também tinha uma forte coloração avermelhada.
Chamaram-no Essav, significando "o pronto", pois nascera com cabelos e pelagem completamente desenvolvidos, como de um adulto. (O nome Essav deriva de 'assui', feito).
O bebê mais novo, porém, tinha a pele lisa. Foi chamado de Yaacov. Yaacov vem da palavra 'ekev', calcanhar. Assim que Essav nasceu, tentou evitar que Yaacov viesse ao mundo, destruindo o útero de sua mãe. Yaacov, porém, segurou firmemente nos calcanhares de Essav, surgindo depois dele.
Essav recebeu seu nome dos pais, mas Yaacov ganhou este nome diretamente de D'us.
Quando completaram oito dias, seu pai, Yitschac, fez a milá (circuncisão) em Yaacov, mas teve medo de fazê-la em Essav.
"A pele de Essav está muito vermelha," preocupou-se Yitschac. "Esperarei até ficar mais velho e o sangue sair da superfície da pele. Talvez seja perigoso fazer a milá nele agora."
Essav cresceu, mas sua pele continuou vermelha. Yitschac então compreendeu que essa era a cor natural de Essav. Decidiu pois, fazer-lhe a milá no dia do Bar-mitsvá. Mas quando Essav completou treze anos, recusou-se e disse:
"Não permitirei que ninguém me faça a milá."

Os gêmeos crescem

Até completarem treze anos, a diferença entre Yaacov e Essav não era aparente.
Ambos foram ensinados pelo pai, Yitschac, e seu avô Avraham. Quando cresceram, o pai também mandou-os estudar na yeshivá de Shem e Ever. Essa yeshivá havia sido fundada pelo tsadik Shem, filho de Nôach. Junto com seu bisneto Ever, transmitia aos alunos o conhecimento de Torá que Adam aprendeu com o anjo de D'us no Jardim do Eden.
Ao atingirem a idade de treze anos, tornou-se evidente que tinham estabelecido diferentes objetivos na vida.
Os arbustos de murta e espinhos crescem lado a lado. Enquanto ainda não se desenvolveram e são tenros, parecem ser de espécies idênticas. Mas uma vez que crescem e amadurecem, a diferença entre eles torna-se patente. Um produz ramos que exalam um doce aroma, o outro, espinhos.
O gêmeo menor, Yaacov, desfrutava do estudo da Torá. Passava o dia todo dedicado aos estudos e esforçava-se para cumprir os ensinamentos de seus pais e mestres.
Essav, no entanto, não estava interessado em aprender. Quando ficou mais velho, escapava da yeshivá, perambulando pelos campos e florestas e caçando animais.
Ele não apenas capturava animais, mas também enganava as pessoas com sua língua afiada e loquaz.
Essav fazia acreditar que cumpria as mitsvot, quando, na realidade, era perverso e se comportava como tal.
Ele tomava, porém, bastante cuidado em esconder do pai, Yitschac, quem realmente era. Quando seu pai lhe perguntava, "Onde esteve hoje?". Ele simplesmente mentia: "Estudei Torá no Bet Hamidrash (Casa de Estudos)," era sua resposta desonesta.
Uma das artimanhas de Essav era perguntar ao seu pai questões muito detalhadas acerca da observância das mitsvot.
"Pai, tenho um problema," declarava.
"Qual é?" perguntava-lhe Yitschac.
"Como separa-se o dízimo do sal ou da palha?"
Com esta pergunta, Essav queria demonstrar falsamente que cumpria as mitsvot num nível muito mais elevado do que o exigido, pois não é necessário separar o dízimo de sal ou palha.
Muitas vezes, quando um hóspede deixava a casa de Avraham e Yitschac, Essav o seguia. Quando se encontrava a sós com o hóspede nas montanhas ou nos bosques, matava-o e roubava seu dinheiro.
Havia uma só mitsvá que Essav observava cuidadosamente: honrar seu pai. Todos os dias, quando ia para o campo caçar, trazia para casa carnes deliciosas para seu pai, Yitschac.
O próprio Essav sempre servia pessoalmente a carne a seu pai. Antes de entrar no quarto do pai, tirava as roupas de caça e vestia suas melhores roupas, como se fosse servir a um rei.
Há uma coisa boa que podemos aprender do perverso Essav: o quanto devemos honrar nossos pais!

Por que Yitschac amava Essav?

Yitschac foi mal conduzido até certo ponto pelas pretensões e simulacros de Essav, e também porque Essav oferecia a seu pai a saborosa carne dos animais que caçava. Não obstante, Yitschac percebeu que os feitos de Essav ficavam além dos padrões requeridos. Ainda assim, demonstrava-lhe amor. Quais eram seus motivos para ser tão afeiçoado a Essav?
Yitschac temia ser duro com ele, pensando: "Se seus atos não são como deveriam ser, apesar de ter-lhe devotado afeição, quão piores e mais depravados seriam se eu o tivesse totalmente rejeitado e demonstrado-lhe ódio!" Assim, com amor e carinho, Yitschac esperava atrair Essav para o serviço a D'us.
Ademais, Yitschac previu que Essav teria um descendente honrado, o profeta Ovadyá (que era um edomita convertido), e portanto, amou-o, em função do futuro.
Rivca, por outro lado, amava apenas Yaacov, porque conhecia a profecia que Shem lhe transmitira antes do nascimento dos gêmeos; que apenas o mais jovem seria digno e valoroso.

Essav vende seus direitos de primogênito para Yaacov

Todos souberam da triste notícia. Avraham havia falecido.
Yitschac sentou-se enlutado por seu pai. Yaacov foi pessoalmente à cozinha para preparar lentilhas, uma vez que costuma-se servir lentilhas aos enlutados.
Havia apenas uma pessoa na casa que não fora afetada pela tragédia daquele dia: Essav, que desaparecera pelos campos, como de costume.
Neste dia, Essav cometera o pecado de tomar uma moça que estava comprometida a outra pessoa. Também matou Nimrod. Aconteceu como se segue:
Essav estava caçando no campo, quando, à distância, percebeu os soldados do rei Nimrod rodeando-o. Nimrod vestia os preciosos trajes que D'us fez para Adam. Essav desejou imediatamente essas vestimentas. Aguardou até que os soldados de Nimrod deixaram o rei, protegido por apenas dois homens. Aproximou-se sorrateiramente de Nimrod, atacando-o pelas costas e decapitando-o. Os dois guardas retaliaram, porém Essav também os matou. Essav roubou os preciosos trajes de Nimrod e voltou para casa, exausto por causa da matança. Estava preocupado com os descendentes de Nimrod, que poderiam vingar a morte do pai e assassiná-lo.
Quando Essav entrou, encontrou Yaacov na cozinha. Essav provocou-o: "Por que você se dá ao trabalho de preparar esse prato tão elaborado? Há uma imensa variedade de deliciosos alimentos que podem ser consumidos sem requerer tanto preparo: peixes, insetos e besouros, porco, e assim por diante!"
"Você com certeza já escutou que nosso avô Avraham faleceu, e nosso pai Yitschac está de luto." Retrucou Yaacov. "Por isso estou cozinhando lentilhas, o alimento dos enlutados, para dar a nosso pai."
"O quê? O velho Avraham já foi arrancado deste mundo excitante? Não viveu centenas de anos?" - debochou Essav. "Ele se foi para sempre, para jamais se levantar!"
"Estou morrendo de fome! Alcance-me rápido estas lentilhas para comer, quero devorar tudo isto."
"Espere," respondeu Yaacov. "Primeiro você tem que concordar em me dar algo em troca. Você é o filho mais velho e por isso tem o privilégio de servir como cohen (sacerdote) por nossa família."
Antes da Outorga da Torá, o primogênito de cada família era como um cohen. Isto significa que ele tinha o privilégio de oferecer sacrifícios pela família e era honrado como cohen. Porém, a idéia de que o perverso Essav, que cometia tantos atos de maldade, estivesse encarregado do serviço de D'us como representante da família, preocupava a Yaacov.
"Certamente, não é adequado que ele sirva como cohen", pensava Yaacov.
"Essav," chamou ele. "Quero servir como cohen em seu lugar. Venda-me seu direito de primogenitura, o direito de ser cohen, e lhe darei a comida que tanto deseja."
"Concordo," foi a resposta imediata de Essav. "Agora, despeje a comida direto na minha garganta!", exigiu Essav.
Yaacov alimentou o irmão com pão e a sopa de lentilha vermelha que estava cozinhando.
Então Yaacov disse: "Sabe por que eu queria atuar como primogênito em seu lugar? Porque você é um assassino e um malvado. Por que você não pode se sentar em paz na tenda e estudar como seu pai e seu avô. Então poderá continuar a trazer os sacrifícios, como todos os primogênitos."
"Não me interessa servir a D'us," riu Essav. "Pode ficar com o direito de primogênito, se assim deseja. A Torá que você tanto estuda e as mitsvot que cumpre com tanto cuidado, para mim não têm utilidade. Prefiro uma boa comida e boa diversão."
Essav continuou a caçoar de Yaacov. Em seguida, voltou para o campo, continuando suas más ações.

Yitschac e Rivca viajam para a terra dos pelishtim

Pouco depois, a fome assolou a terra de Canaã. A comida era escassa. Yitschac pensou em viajar para o Egito, como seu pai Avraham fizera noutra época de fome. D'us, porém, ordenou que agisse diferente.
"Nasceste aqui, nesta santa terra de Israel," disse D'us. Não a deixe, fique aqui! Vou protegê-lo e abençoá-lo."
Yitschac obedeceu. Permaneceu na cidade de Guerar, na terra de pelishtim (que fazia parte da terra Israel).
Os pelishtim repararam que Rivca era uma mulher muito bonita e perguntaram para Yitschac:
"Quem é esta mulher que está com você?"
Yitschac percebeu o motivo da pergunta: "Se eu disser a eles, 'É minha mulher', pensou Yitschac, os pelishtim podem me matar para ficarem com ela." Por isso respondeu: "É minha irmã."
O rei Avimêlech também ouviu falar de Rivca. Teria gostado de levá-la para o palácio, mas lembrou- se de como D'us ficara irado com o último rei Avimêlech, castigando-o por raptar Sara. Talvez Rivca fosse realmente casada com Yitschac e D'us o castigasse também por levá-la a seu palácio.
Por isso, o Rei Avimêlech observou Yitschac e Rivca por um longo tempo para descobrir se agiam como marido e mulher. Chegou a conclusão que eram, na verdade, casados, e então o Rei Avimêlech chamou Yitschac a seu palácio.
"Rivca é tua mulher!" - acusou-o ele. "Por que mentiste? Quase ordenei a meus guardas para trazê-la a meu palácio."
Yitschac explicou suas razões para Avimêlech. "Se tivesse lhe dito a verdade," disse ele, "poderia ter perdido a vida. Em seu país, as pessoas matam o marido se querem ficar com a mulher."
O rei Avimêlech prometeu: "De agora em diante, estarão sob minha proteção."
Imediatamente, foi emitida uma proclamação real: "De agora em diante todo aquele que ousar tocar em Yitschac ou sua esposa, será condenado à morte."
Agora todos compreenderam que Yitschac e Rivca eram tsadikim especiais. Que outros estrangeiros já haviam recebidos a proteção do rei?
Deste modo, D'us tornou Yitschac famoso no mundo inteiro.
Todos ouviram também falar de Yitschac porque ele se tornou fabulosamente rico na terra dos pelishtim. Como isto aconteceu?
Durante o tempo em que Yitschac viveu com os pelishtim, semeou campos. Quando chegou o tempo da colheita, colheu a safra e a mediu. Logo, separou um décimo e o destinou aos pobres. Por ter distribuído maasser (um décimo dos seus ganhos) entre os pobres, D'us recompensou-o com riquezas. Na próxima vez em que semeou, colheu cem vezes mais do que havia plantado.

Os servos do Rei Avimêlech enchem os poços que Yitschac escava

Quando os servos do Rei Avimêlech viram como Yitschac ficara rico, sentiram inveja.
Maldosamente, entupiram todos os poços que pertenciam a Yitschac. Estes poços haviam sido cavados pelo pai de Yitschac, Avraham. Yitschac ordenou aos servos: "Limpem meus poços de toda terra e sujeira com que os servos de Avimêlech os encheram."
O Rei Avimêlech se deu conta que a inveja de seus servos poderia lhe trazer problemas. "Vá embora," ordenou ele a Yitschac. "Você ficou muito mais rico que nós."
Yitschac obedeceu, saindo da vizinhança da corte do rei, apesar de permanecer na terra dos pelishtim.
Assim que havia se estabelecido, ordenou aos servos:
"Cavem a terra. Talvez achemos novos poços de água."
Os servos cavaram fundo e encontraram um manancial. Assim que souberam disso, os servos de Avimêlech afirmaram:
"Na realidade, este poço pertence a nós, porque Yitschac achou-o em nossa terra."
Eles expulsaram os servos de Yitschac para longe do poço e o tomaram para si.
Mas algo estranho aconteceu!
Quando os servos do Rei Avimêlech tentaram extrair água do poço, não saía água. O poço havia secado.
Então, os servos de Avimêlech devolveram o poço aos servos de Yitschac. Assim que Yitschac recuperou a posse, este novamente se encheu de água.
Yitschac chamou este poço de Essec, que significa "luta", referindo-se ao fato de os servos de Avimêlech terem lutado por este poço.
Yitschac ordenou aos servos:
"Cavem novamente". Desta vez, acharam um segundo poço e novamente os servos de Avimêlech o tiraram dos servos de Yitschac. Mais uma vez D'us os puniu e, quando tentaram tirar água do poço, este permaneceu seco. Quando os servos de Avimêlech viram isso, devolveram o controle do poço a Yitschac.
Yitschac chamou este poço de Sitna. Sitna quer dizer "distúrbio", porque os servos de Avimêlech o haviam perturbado, tirando-lhe a posse do poço.
Yitschac então ordenou aos servos que voltassem a cavar e estes encontraram um terceiro poço. Desta vez, os servos de Avimêlech não tentaram tirar-lhe o poço. Haviam aprendido a lição!
Yitschac chamou este poço de Rechovot, que significa "espaço amplo" ou "alívio", pois, desta vez, os servos de Avimêlech pararam de discutir com ele; finalmente, encontrou paz e alívio das contendas.

O que simbolizam os três poços

Tudo o que aconteceu aos nossos antepassados, Avraham, Yitschac e Yaacov, foi um sinal de que algo similar aconteceria mais tarde a seus filhos, o povo judeu.
Cada poço que Yitschac cavava simbolizava um Bet Hamicdash, Templo Sagrado, (pois, assim como a água de um poço dá vida, a Shechiná, Divindade no Bet Hamicdash deu vida para o mundo).
1. O primeiro poço, Essec, representa o primeiro Bet Hamicdash, que as nações atacaram e finalmente destruíram.
2. O segundo poço, Sitna, simboliza o segundo Bet Hamicdash. Durante a época do segundo Bet Hamicdash, as nações não-judias tinham ódio dos judeus. Este sentimento os levou a destruir o Bet Hamicdash.
3. O terceiro poço, Rechovot, simboliza o terceiro Bet Hamicdash. Quando D'us nos enviar Mashiach, haverá paz no mundo e então Ele construirá o terceiro Bet Hamicdash.

A bênção do primogênito

Em sua velhice, Yitschac ficou cego.
Por que D'us fez com que o tsadic Yitschac ficasse cego? Uma razão é que D'us não concordou com o plano de Yitschac de dar a bênção do primogênito a seu filho mais velho Essav. Portanto, D'us fez com que Yitschac ficasse cego, para que Yaacov pudesse entrar sem ser reconhecido pelo pai. Ele então receberia a bênção de primogênito que merecia.
Yitschac temia estar próximo da morte. Chamou o filho mais velho, Essav, e lhe disse:
"Desejo abençoá-lo antes de morrer.
"Vá aos campos e cace um animal. Mate-o como ordena a Torá. Prepare-me uma boa refeição. Então merecerás a bênção por ter honrado seu pai."
Rivca ouviu as palavras de Yitschac. Chamou seu filho mais novo, Yaacov, e lhe disse:
"Seu pai quer abençoar seu irmão mais velho, Essav. Mas sei por uma profecia que a bênção cabe a você, porque Essav não a merece.
"Agora, vá até seu pai e obtenha a bênção antes que seu irmão volte. Prepararei a carne de dois cabritinhos novos (esta carne tem um sabor igual a de animal de caça). Seu pai está cego. Pensará que você é Essav e irá abençoá-lo."
Yaacov estava com medo.
"O que acontecerá se meu pai tocar minha pele?" - perguntou à mãe. "Sentirá que minha pele é lisa, e não cabeluda como a de Essav. Sei que Essav é mau e não merece a bênção, mas não quero que meu pai me amaldiçoe quando descobrir que o enganei."
Rivca respondeu: "Ordeno que você me ouça porque sei através de profecia, que nenhum mal lhe acontecerá. Cobrirei seu corpo com pêlo de cabra para que pareça cabeludo."
Yaacov começou a chorar. Rivca tentou acalmá-lo, dizendo:
"Yaacov, deves ir e obter a bênção, mesmo que te seja difícil. Um dia, serás o patriarca de uma nação sagrada, o povo judeu. Vai por consideração a eles, para que eles sejam abençoados."
Para certificar-se de que Yitschac ficaria convencido de que se tratava de Essav, Rivca deu a Yaacov um dos trajes de Essav que guardava para ele. "Vista esta roupa. Ela tem o cheiro do campo" disse para Yaacov. "Seu pai então acreditará que você é Essav."

O maravilhoso traje de caça de Essav

A roupa que Rivca deu a Yaacov era extraordinária e maravilhosa.
Era feita de pele de cobra. Sobre ela, estavam pintados todos os animais do mundo de forma tão realista que estes pareciam vivos. Quando este traje era usado por um caçador, os animais sentiam-se atraídos pelo seu correspondente animal pintado na roupa. Inevitavelmente, os animais se aproximavam das figuras até chegarem bem perto da pessoa que usava a roupa, e se mostravam tão mansos que esta podia facilmente capturá-los.
Este maravilhoso traje de caça havia sido foi feito por D'us para Adam. Mais tarde, caiu nas mãos do rei Nimrod. Essav matou Nimrod e ficou com a roupa para si.
Essav somente vestia esta roupa quando ia para os campos caçar, mas quando não a estava usando, deixava-a aos cuidados de sua mãe, Rivca. Neste dia, Essav não vestiu este traje porque seu pai havia lhe ordenado que fosse caçar com suas armas, e não com a roupa.

Yaacov é abençoado pelo pai

Rivca cobriu também o pescoço liso de Yaacov com pele de cabra para que parecesse tão cabeludo quanto Essav. Deu a Yaacov os dois cabritos que havia preparado e Yaacov entrou no aposento do pai tremendo e assustado.
"Quem é você, meu filho?" - perguntou-lhe Yitschac. Como era cego, não tinha certeza sobre quem havia entrado no aposento.
"Sou Essav, seu primogênito," respondeu Yaacov.
Yitschac ficou confuso. A voz soava como a de Yaacov e não como a de Essav. Além disso, este filho falava cortesmente e usava o nome de D'us, enquanto Essav usava linguagem rude. Como então podia ser Essav?
"Chegue mais perto. Aproxime-se, quero tocá-lo!" ordenou Yitschac.
Yitschac tocou a pele de Yaacov. Era cabeluda como a de Essav, pois estava coberta com o pelo do cabrito que a mãe havia posto.
Isto convenceu Yitschac de que era realmente Essav que estava diante dele. Comeu a comida que Yaacov trouxera e logo em seguida o abençoou.
Yitschac abençoou Yaacov com as seguintes palavras:
"Que D'us te dê o melhor orvalho que cai do céu e as melhores fontes da terra para regar teus campos. Que te dê muito cereal e vinho."
"As outras nações te servirão e serás o senhor sobre teus irmãos. Quem te amaldiçoar, será amaldiçoado e quem te abençoar, será abençoado."

Essav regressou

Yaacov estava pronto para deixar o aposento quando percebeu Essav se aproximando.
Essav não devia encontrá-lo! Rapidamente, Yaacov se escondeu atrás da porta; quando Essav entrou, ele saiu.
"Aqui estou com o animal que cacei para ti," anunciou Essav para o pai.
"Como pode ser?" perguntou Yitschac tremendo. "Alguém esteve aqui, serviu-me comida e o abençoei. Certamente, D'us é que fez com que isso acontecesse, e esta pessoa deve ser aquela que realmente merece a bênção."
Essav começou a vociferar, desapontado.
"Foi Yaacov, tenho certeza," exclamou. "ele enganou-me duas vezes! Primeiro, apoderou-se da minha primogenitura e agora ficou com minha bênção."
Yitschac respondeu: "Se você concordou em dar a Yaacov o direito de primogênito, a bênção, então, pertence realmente a ele, Yaacov."
Essav suplicou ao pai para abençoá-lo também. Yitschac respondeu: "Abençoar-te-ei também, mas não posso fazer-te senhor de seu irmão. Já dei a Yaacov esta bênção."
Por isso, Yitschac abençoou Essav assim: "Você terá sucesso quando for para a guerra, mas não poderá vencer seu irmão. Só se os descendentes de seu irmão Yaacov transgredirem a Torá, seus descendentes poderão governar sobre eles."

Yaacov parte rumo a Charan

Essav odiava Yaacov com toda a alma por ter tirado "sua" bênção. Estava determinado a matar o irmão. Rivca, preveniu-o: "Não fique aqui! Vá embora até que a raiva de Essav passe."
Os pais de Yaacov ordenaram-lhe:
"Viaje para a cidade de Charan, até Lavan (irmão de Rivca, tio de Yaacov). Procure uma boa esposa das filhas de Lavan."
Rivca pensou: "Quando Yaacov voltar com a esposa, Essav se reconciliará novamente com ele."
Vocês acham que ela estava certa?

Parashá Chayê Sara

Avraham compra a Gruta de Machpelá

Avraham conhecia o local onde desejava sepultar Sara. Havia uma gruta, perto de Chevron, onde Adam e Chava estavam enterrados. Era um lugar sagrado, chamado "Gruta de Machpelá."
Avraham se propôs a comprar a gruta de seu proprietário, que se chamava Efron. Primeiro, porém, queria pedir permissão para à tribo de Efron, os Benê Chet:
"Por favor, deixe-me comprar um pedaço da propriedade para uma sepultura," pediu a eles.
Os membros da tribo Benê Chet responderam:
"És um homem famoso, um príncipe de D'us. Daremos a ti qualquer propriedade onde desejas sepultar teus mortos."
Avraham curvou-se para agradecer a D'us. Pediu aos membros da tribo:
"Por favor, peçam ao proprietário da Gruta de Machpelá, Efron, que a venda para mim."
Quando Efron ouviu que Avraham queria comprar sua gruta, foi pessoalmente falar com ele.
"Meu senhor," disse para Avraham. "Não quero dinheiro algum pelo campo onde está a gruta. Dou-a para você de graça."
"Não," protestou Avraham, "prefiro comprá-la."
Avraham sabia que Efron não falava a sério quando prometia dar-lhe a gruta de presente. Efron era um homem avarento e, em seu coração, realmente queria dinheiro em troca da gruta.
Portanto, Avraham insistiu: "Apenas diga-me o preço e o pagarei."
"Bem, se você insiste, direi o preço." replicou Efron. "É uma quantia muito pequena - apenas quatrocentos shecalim de prata."
Na verdade, não era em absoluto uma quantia pequena - era um preço muito, muito alto. O avarento Efron cobrava de Avraham um preço exorbitante, apesar de, a princípio, ter prometido dar a gruta de graça.
Avraham, porém, não regateou com Efron. Queria pagar pelo lugar sagrado o preço integral para que ninguém mais tarde afirmasse que a Gruta de Machpelá, na realidade, não lhe pertencia.
Avraham pagou a Efron quatrocentos shecalim. Depois, sepultou Sara.
Mais tarde, quando Avraham morreu, também foi enterrado na Gruta de Machpelá.
Há três lugares chave pelos quais nossos antepassados pagaram a não-judeus em dinheiro, para assegurar-se de que seriam legítimos donos das propriedades e com isso não poderiam ser acusados, mais tarde, de ter se apropriado destes ilegalmente:
• A Gruta de Machpelá, cuja transação é registrada pela Torá.
• O local do Bet Hamicdash (Templo Sagrado, em Jerusalém) foi comprado pelo Rei David de Aravna, do povo de Yevussi.
• O lugar de sepultamento de Yossef em Shechem (Nablus) foi adquirido por seu pai Yaacov.

O Midrash explica: Como a Gruta de Machpelá recebeu este nome

Você sabe o significado do nome "Gruta de Machpelá"?
Quer dizer "A Gruta dos Duplos." (A palavra "Machpelá" tem a mesma origem de "caful" que significa "duplo").
O que era "duplo" nesta gruta?
Há muitas explicações. Abaixo encontramos algumas delas:
1. Havia um "segundo pavimento" sobre a gruta, sendo assim realmente, uma gruta dupla. (Porém somente o andar de baixo servia como local de sepultamento).
2. Não só Sara foi sepultada nesta gruta como também seu marido Avraham, mais tarde, quando faleceu. Yitschac e sua mulher Rivca também seriam sepultados lá, e assim o foram Yaacov e uma de suas esposas, Léa. Outro casal havia sido enterrado na Gruta de Machpelá, muito antes: o primeiro homem, Adam (Adão) e sua esposa, Chava (Eva).
Como os sepultos na Gruta eram casais ou "duplos", a Torá a chama de Machpelá, significando "A Gruta dos Duplos."
Após a morte de Yitschac, a Gruta de Machpelá passou à posse de seus filhos, Yaacov e Essav. Havia sobrado lugar para só mais um casal. A questão era se Essav com uma de duas mulheres ou Yaacov com uma de suas mulheres seriam sepultados ali.
Yaacov perguntou a Essav: "Que preferes, uma pilha de dinheiro de nosso pai Yitschac ou um lugar na Gruta Machpelá?"
Essav pensou: "Por que hei de perder tanto dinheiro para ganhar um lugar de sepultamento? Por enquanto, ficarei com o dinheiro, mais tarde arranjarei um lugar de sepultura de graça."
Essav aceitou o dinheiro de Yaacov e, com isso, perdeu o direito à Gruta de Machpelá para sempre. Mas como veremos depois (na Parashat Vaychi) Essav quis, apesar de tudo, ser sepultado na Gruta de Machpelá.
3. Quando D'us quis sepultar Adam, o corpo deste não entrava na gruta. Adam media cem amot de altura. D'us teve que dobrar o corpo de Adam para que coubesse na gruta. Esta era chamada de "Machpelá / Dupla" porque D'us dobrou o corpo de Adam.
Apesar de a gruta ser pequena, D'us queria que Adam fosse sepultado lá por ser um lugar sagrado.
Atualmente conhecemos a localização exata da Gruta de Machpelá. Fica na cidade de Chevron (Hebron), em Israel. Os judeus rezam lá para D'us e Ele ouve suas orações em mérito de nossos antepassados que ali jazem.

O Midrash nos conta: Como surgiram os sinais de velhice

Apesar de Avraham ser idoso, tinha a aparência jovem. Até a época de Avraham, as pessoas não tinham sinais exteriores de envelhecimento. Aparentavam ser jovens até a morte. Yitschac era muito parecido com o pai, e não se conseguia identificá-los com facilidade. Avraham disse a D'us: "Mestre do Universo! Se Yitschac e eu entrarmos juntos num local, as pessoas não saberão a quem prestar honras. Se o Senhor alterasse a aparência de um homem em idade avançada, as pessoas saberiam a quem honrar."
"Muito bem," replicou D'us. "Pediste algo bom. Serás o primeiro a ver seu pedido atendido!" Apareceram, então, sinais de envelhecimento em Avraham.

Avraham pede a Eliêzer para achar uma esposa para Yitschac

Em sua velhice, Avraham tinha tudo o que podia desejar, com uma exceção: seu filho Yitschac não estava casado.
Avraham chamou seu fiel servo Eliêzer e disse-lhe:
"Meu filho Yitschac precisa de uma esposa. Confio a você a tarefa de encontrar-lhe uma.
"Porém, não escolha uma das moças dos canaanitas, porque todos eles foram amaldiçoados por Nôach (como foi mencionado na Parashat Nôach)."
"Em vez disso, vá até minha família em Charan e procure lá uma boa e digna esposa para Yitschac. Apesar dos membros da minha família adorarem ídolos, sei que são bondosos e sinceros. Por isso, uma moça de minha família terá, para começar, bons traços de caráter. Ela poderá aprender a servir a D'us e transmitir a seus filhos."
Eliêzer partiu para Charan. Avraham deu-lhe uma carta em que dizia que tudo que possuía pertencia a seu filho Yitschac. Se Eliêzer mostrasse a carta para os parentes da moça, eles, com certeza, permitiriam que casasse com Yitschac.
Eliêzer chegou a Charan antes do fim do dia. Isto foi um milagre. Normalmente, a viagem para Charan levava muitos dias. D'us fê-lo chegar lá rapidamente para ajudar Yitschac a casar-se sem demora.

Eliêzer põe Rivca à prova, ao lado do poço

Ao anoitecer, Eliêzer chegou ao poço que havia na entrada da cidade de Charan. Diariamente, os habitantes de Charan enviavam suas filhas ao poço para lhes trazerem água e, por isso, Eliêzer sabia que lá encontraria todas as moças de Charan.
Eliêzer rezou a D'us: "Por favor, ajude-me a encontrar a moça adequada para Yitschac!
"Yitschac necessita de uma esposa hospitaleira, que receba cordialmente os numerosos hóspedes que sempre vêm à nossa casa, que seja rápida em servi-los e tenha paciência com eles. Yitschac também precisa de uma esposa justa e compreensiva.
"Hei de testar uma das moças que estão chegando para tirar água do poço. Pedir-lhe-ei para me dar água. Se me responder: 'Beba e também darei água a seus camelos', saberei que é bondosa e hospitaleira. Interpretarei isto como um sinal de que Tu, D'us, a escolheste como esposa de Yitschac. (Mas se disser: 'Por que devo extrair água para ti?' 'Podes tirar água do poço por si mesmo!' ou 'Pede a uma das outras moças,' então ela não é a esposa generosa e amável que estou procurando)."
D'us aceitou a oração de Eliêzer. Fez com que Rivca viesse ao poço. Ela jamais saía para tirar água do poço. Era de nobre linhagem e seu pai, Betuel, governava a região. Geralmente Rivca enviava criadas para estas tarefas. Agora, porém, os anjos de D'us dirigiram Rivca ao poço, a fim de conduzi-la a seu destino como esposa de Yitschac.
Eliêzer observou a maneira pela qual todas as moças tiravam água. E então reparou que uma delas não precisava abaixar seu balde para dentro do poço. Ocorria um milagre e a água subia até ela. Eliêzer pensou: "Esta moça deve ser uma tsadeket, se D'us faz este milagre por ela!" Correu até ela e pediu-lhe:
"Por favor, dê-me alguns goles d'água do seu jarro."

Rivca passa no teste

Rivca respondeu para Eliêzer respeitosamente: "Beba, meu senhor."
Quando Eliêzer terminou de beber, ela acrescentou: "Agora também darei a seus camelos toda a água que necessitam"
Eliêzer viu que esta era uma moça excepcionalmente bondosa e hospitaleira. Ela se ofereceu para dar água a dez camelos - uma difícil tarefa! Correu para o poço e encheu seu jarro repetidas vezes para ajudar um homem que lhe era estranho.
(A excepcional bondade de Rivca pode ser melhor apreciada se atentarmos à enorme quantidade de água que ofereceu-se para trazer: não apenas um jarro de água para cada camelo - o que ocasionaria que voltasse ao poço dez vezes para encher a ânfora - mas água o suficiente para que os camelos ficassem saciados. Sabe-se que camelos bebem enormes quantidades de água de uma vez, armazenando-a em seu estômago por vários dias. Rivca cumpriu a vasta empreitada com agilidade e rapidez, sem se incomodar com o fato de Eliêzer não levantar um dedo para ajudar uma menina pequena, e ainda manter-se de lado ociosamente, enquanto ela trabalhava sozinha.)
Eliêzer ficou esperando porque queria descobrir mais uma coisa: será que no final a moça pediria dinheiro pelo seu grande trabalho?
Porém, Rivca não tinha tais intenções. Quando terminou de dar de beber aos camelos, preparou-se para partir.
Rapidamente, Eliêzer ofereceu-lhe presentes caros. Estava convencido de que D'us havia enviado a moça certa.
Eliêzer deu à futura noiva de Yitschac um aro de ouro com um diamante que pesava meio-shêkel, e dois braceletes dourados, cada um pesando dez shecalim.
Estes presentes eram uma profecia sobre o futuro. Demonstravam que Rivca se tornaria a mãe do povo judeu. O diamante de meio-shêkel indicava que cada judeu contribuiria ao Templo Sagrado com meio-shêkel por ano. Os dois braceletes, que os judeus receberiam duas tábuas, e o peso de dez shecalim indicava que sobre essas tábuas os Dez Mandamentos seriam gravados.
Eliêzer perguntou a Rivca: "Você é filha de quem? Há lugar para mim na casa de seu pai?"
Rivca respondeu: "Sou filha de Betuel. (Betuel era sobrinho de Avraham). Temos lugar em casa para que durmas e também comida para teus camelos."
Eliêzer agradeceu a D'us: "Obrigado, D'us, por ter me conduzido à moça certa da família de Avraham."

Eliêzer na casa de Betuel

Rivca correu para casa para contar à mãe sobre o homem desconhecido da família de Avraham que precisava de um lugar para dormir e que havia lhe dado esses presentes.
Rivca tinha um irmão maldoso, Lavan (Labão). Quando viu a irmã usando um aro de ouro e pulseiras, pensou: "Se esse homem deu presentes tão valiosos para Rivca em troca de um pouco d'água, o que não me daria se o convidasse a entrar."
Lavan correu até Eliêzer e disse: "Bem-vindo à nossa casa! Temos lugar suficiente para ti. Também tirei os ídolos da casa!"
Lavan sabia que nenhum membro da casa de Avraham entraria em um local onde houvesse imagens de ídolos.
A família de Lavan serviu a Eliêzer uma refeição. Mas quando ele sentou-se à mesa, não começou a comer de imediato. Disse:
"Primeiro, quero explicar porque estou aqui.
"Meu senhor, Avraham, é muito rico. Tem um filho excelente, Yitschac. Qualquer moça de Canaã se sentiria feliz em casar-se com ele. Mas meu senhor deseja que se case somente com uma moça de sua própria família. Por isso me enviou aqui."
Eliêzer contou-lhes como conheceu Rivca perto do poço e terminou perguntando: "Concordam em dar Rivca como esposa para Yitschac?"
"Estamos de acordo, porque vemos que D'us fez tudo isto acontecer," respondeu Lavan, irmão de Rivca.
O pai de Lavan, Betuel, também estava presente. Betuel deveria ter respondido antes. Porém Lavan não honrava seu pai, e por isso respondeu antes dele.
Betuel era um homem mau. Pôs diante de Eliêzer um prato de comida envenenada. Queria que Eliêzer morresse para ficar com o ouro e objetos preciosos que este trouxera.
Mas enquanto Eliêzer falava, um anjo trocou as porções de Eliêzer e Betuel, e assim, este comeu a comida envenenada. Betuel morreu nesta mesma noite.

Eliêzer leva Rivca para Yitschac

Na manhã seguinte, ambos, Lavan e sua mãe, disseram a Eliêzer: "Queremos que Rivca fique em nossa casa mais um ano antes de partir."
Mas Eliêzer respondeu: "Não, quero que ela venha comigo agora mesmo!"
Perguntaram, então para Rivca: "Queres ir com este homem?"
"Sim, quero ir," respondeu. Estava feliz em deixar o irmão malvado e a casa repleta de ídolos e casar-se com o tsadic Yitschac.
Quando Rivca e Eliêzer chegaram às vizinhanças de Avraham em Canaã, Yitschac estava justamente voltando da reza de Minchá. Ele sempre rezava num certo campo onde havia silêncio e podia concentrar-se.
Nossos patriarcas instituíram as três preces diárias:
• Avraham - a oração matutina, Shacharit
• Yitschac - a oração da tarde, Minchá
• Yaacov - a oração noturna, Arvit
Rivca ergueu os olhos e viu um homem que parecia um tsadic. Havia um anjo sobre ele que o protegia.
Rivca desceu do camelo e cobriu seu rosto recatadamente com um véu.
"Quem é este homem?" - perguntou a Eliêzer.
"É meu senhor, Yitschac" - respondeu Eliêzer.
Eliêzer relatou a Avraham e Yitschac como D'us o ajudara a encontrar uma esposa para Yitschac.
Yitschac levou Rivca para a tenda de Sara. Percebeu, então, que ela era uma mulher justa, como fora sua mãe Sara. Pois, novamente, a luz ardia da véspera de um Shabat até o seguinte, a massa era abençoada de modo que sempre havia o suficiente, e a nuvem de D'us pairava sobre a tenda, tal como acontecia durante a vida de Sara.
Yitschac estava feliz por ter encontrado uma esposa digna.

O Midrash explica: Por que Sara mereceu esses milagres

Sara era meticulosa na observância das três mitsvot dadas especificamente às mulheres: acender as velas do Shabat, separar a chalá da massa, e cumprir as leis relacionadas à pureza familiar. Em troca, D'us a recompensou com três bênçãos:
• Por ser cuidadosa em tirar a chalá, sua massa foi abençoada.
• Como recompensa por cumprir a mitsvá de acendimento das velas, suas luzes ardiam da véspera de um Shabat até o próximo.
• Por seguir as leis de Taharat Hamishpachá, Pureza Familiar, a nuvem da Shechiná pairava sobre sua tenda, pois o estado de pureza atrai a Presença Divina.
Todos os três sinais reapareceram para Rivca porque ela cumpria essas mitsvot com a mesma dedicação de Sara.

Avraham casa-se novamente com Hagar, que ostenta o novo nome de Ketura

Enquanto Eliêzer estava em sua jornada, Yitschac também viajara. Fora buscar Hagar, para que se casasse novamente com seu pai. Yitschac pensou: "Meu pai está preocupado com meu casamento, enquanto ele próprio não tem uma esposa!"
Assim como Avraham cumpriu a ordem de D'us separando-se de Hagar e mandando-a embora, também assim o fez, casando-se novamente com ela, sob o comando de D'us.
A Torá relata que Avraham desposou uma mulher de nome Ketura, mas na verdade, casara-se novamente com Hagar. Se Ketura era a mesma pessoa que Hagar, por que a Torá atribui-lhe um nome diferente?
Após ter deixado a casa de Avraham, Hagar voltou à idolatria da casa de seu pai. Mais tarde, porém, fez plena e sincera teshuvá, mudando completamente sua personalidade. D'us, então, deu-lhe outro nome, "Ketura." Este novo nome foi escolhido por indicar seus atos positivos:
• Ela segregou-se, e absteve de relacionar-se com outros homens durante todos os anos em que esteve separada de Avraham (keter = isolou-se).
D'us ordenou a Avraham que tomasse novamente Hagar como esposa porque sabia que ela merecia unir-se a Avraham.

Avraham morre e é sepultado por Yitschac e Yishmael

Avraham morreu quando já era um ancião que tinha tudo o que podia desejar. Viu, inclusive, seu filho Yishmael fazer teshuvá antes de morrer.
Yitschac e Yishmael sepultaram-no na Gruta de Machpelá, ao lado de Sara.
D'us recompensou Yishmael, por ter vindo do deserto, especialmente para prestar as últimas honras em respeito a seu pai. Em retribuição, D'us honrou-o, enumerando a progênie de Yishmael, nos últimos versículos desta parashá.

Os louvores à Avraham

Quando Avraham faleceu, todos os grandes povos dentre as nações enlutaram-se. "Ai do mundo, que perdeu seu líder, e ai do navio que perdeu seu capitão!"
Durante sua vida Avraham rezara por mulheres estéreis, e estas engravidaram; pelos doentes, e ficaram curados. Até navios navegando no longínquo oceano foram salvos, pelo mérito de Avraham.
Apesar de o mundo inteiro negar a existência de D'us, conseguiu ser o único em sua crença, e afirmar a Onipotência de D'us. Por causa disso foi chamado de Avraham "Ha'ivri" (o hebreu), significando o homem que permanece de um lado (ever = lado), enquanto o mundo inteiro une forças contra ele.
Quando Avraham morreu, D'us louvou-o da seguinte maneira: "Avraham era um tsadic tão grande que, se não fosse por ele, Eu não teria criado o Céu e a Terra."
Por dois mil anos após a Criação do Mundo, D'us estava aborrecido com as pessoas que adoravam ídolos. Quando Avraham nasceu, D'us se alegrou, pois Avraham ensinou a dezenas de milhares de pessoas a servirem-No
Avraham sabia como curar doentes com diversos tipos de remédios (segulot). Acima de tudo, curava aqueles cuja "mente estava doente," os que não acreditavam em D'us. Ele os ensinava a acreditar no Criador.
Avraham foi posto à prova por D'us dez vezes e superou todas elas.
Compreendeu e seguiu a Torá muito antes da Outorga da Torá, ensinando-a a seus filhos.
Não houve um dia sequer, em toda a sua vida, em que não realizou um ato de santificação do Nome Divino (Kidush Hashem).

A morte de Sara

Depois da Akedá (sacrifício de Yitschac), Avraham voltou para sua tenda em Beer Shêva, mas não encontrou lá sua esposa Sara.
"Onde está Sara?" - perguntou aos seu servos. Estes o informaram:
"Sara viajou para Chevron (Hebron)."
Avraham foi em busca dela. Quando chegou a Chevron, ficou sabendo da triste notícia: sua mulher havia falecido.

O Midrash explica: Como Sara faleceu

O anjo mau, Satan, apareceu perante Sara depois que Avraham havia partido rumo ao monte Moriyá junto com Yitschac, para oferecê-lo como sacrifício.
Satan tinha o aspecto de um homem comum. Suas roupas estavam empoeiradas como as de um viajante que anda pelas estradas. Contou a Sara:
"Encontrei-me com seu marido, Avraham, e não imagina o que estava fazendo. Construiu um altar e pôs seu filho Yitschac sobre ele. Yitschac chorava implorando por piedade, mas Avraham se recusou a atender às comoventes súplicas de Yitschac. Amarrou as mãos e os pés do filho e o matou."
Sara começou a chorar. Pôs cinzas sobre a cabeça. "Meu filho Yitschac!" - exclamou ela. "Quem dera tivesse morrido em seu lugar. Mas sinto-me reconfortada e consolada porque sei que foi cumprida a palavra de D'us. D'us é justo em tudo que faz. Mesmo que meus olhos derramem lágrimas, meu coração está feliz por Avraham ter obedecido à ordem de D'us."
Sara desmaiou de emoção, mas logo depois se sentiu melhor. Disse às servas:
"Viajarei a Chevron para descobrir alguma coisa mais sobre o que ocorreu com Yitschac!"
No caminho, Sara perguntava a todos que encontrava:
"Vocês viram Avraham e Yitschac?" Mas ninguém soube lhe dizer nada.
Quando Sara chegou a Chevron, Satan voltou a apareceu-lhe outra vez. Disse-lhe:
"Antes, menti a você. A verdade é que, apesar de Avraham ter amarrado seu filho Yitschac sobre o altar, não o matou no final."
Sara sentiu-se dominada por tanta felicidade com esta notícia maravilhosa que não pôde suportá-la. O coração parou de bater e ela morreu.

Avraham guarda luto por Sara

Sara tinha cento e vinte e sete anos quando morreu. Viveu cada um de seus anos com integridade, aceitando todos os decretos de D'us com alegria. Mesmo aos cem anos de idade, era livre de pecados como alguém de vinte anos (que pode ser considerado livre de pecados porque com esta idade ainda não está sujeito à punição celeste).
Avraham lamentou muito sua morte. Com profundo pesar, exclamou:
"Todos devem chorar a morte desta grande tsadeket, porque D'us abençoou todas as pessoas por seu mérito.
"Sara serviu a D'us durante toda sua vida. Constantemente preparava comida para hóspedes e também os ensinava a crer em D'us.
"Durante toda sua vida, a nuvem da Shechiná (Presença Divina) pairava sempre sobre sua tenda. D'us abençoava sua massa de modo que sempre tinha pão em abundância; as velas que acendia na véspera do Shabat permaneciam acesas até a véspera do Shabat seguinte. Agora que ela não está mais aqui, tudo isto cessou."
Sara foi a primeira das quatro matriarcas, fundadoras da nação judaica. Foi uma das sete profetisas conhecidas.
As sete profetisas foram:
• Sara
• Miriam (irmã de Moshê)
• Devorá (a juíza)
• Chana (mãe do profeta Shemuel)
• Avigail (esposa do rei David)
• Chulda (que profetisava para as mulheres à época em que Yirmiyáhu profetisava para os homens)
• A Rainha Ester
Sara era tão grande que D'us falava diretamente com ela; enquanto que com outras profetisas Ele falou apenas através de mensageiros. Ela foi uma tsadeket de tal envergadura que até os anjos estavam sob seu comando. Quando ordenou ao anjo: "Golpeie", este afligiu o Faraó e toda sua casa com pragas.
Quando o rei Shelomô (Salomão) compôs a canção Êshet Cháyil, tecendo louvores à Mulher Virtuosa, aludiu a Sara. Todos os versos da canção, do primeiro ao último, referem-se a ela, uma vez que cumpriu toda a Torá, do começo ao fim.
 


Parashá Vayerá

D'us aparece para Avraham e lhe envia três anjos


Sabe o que Avraham costumava fazer todos os dias na hora do almoço?
Sentava-se à entrada de sua tenda e ali aguardava. Avraham pensava: "Se ao menos um viajante passasse... Queria convidá-lo para uma refeição!"
O maior prazer de Avraham na vida era oferecer uma refeição para alguém faminto; pois era bondoso para todos. Quando seus convidados terminavam de comer, Avraham ensinava-lhes a agradecer a D'us. Contava tudo sobre D'us, que criou o mundo e que cuida dele a cada instante.
Era o terceiro dia após berit milá de Avraham. Estava fraco, convalescendo e com dor. Apesar disso, antes da hora da refeição, sentou-se à frente de sua tenda, como de costume.
Era um dia extremamente quente, de modo que os caminhos estavam desertos. Avraham estava desapontado: "Parece que hoje não poderei alimentar ninguém," pensou tristemente.
D'us viu como Avraham estava infeliz. D'us disse: "Enviarei para Avraham três anjos, que terão a aparência de homens, para que possa convidá-los. Também hei de aparecer perante Avraham. Quero visitá-lo, porque está convalescendo do berit milá."
D'us pessoalmente visitou Avraham para ensinar-nos como é importante visitar os doentes.
Uma história: A importância de visitar os doentes
Uma vez, um dos alunos de Rabi Akiva ficou gravemente doente. Todos os Sábios estavam ocupados, estudando e ensinando Torá. Nenhum deles teve tempo para visitar o doente.
Quando Rabi Akiva ficou sabendo que um de seus alunos estava de cama, doente e completamente sozinho, largou todo seu importante trabalho, seus estudos e aulas. "Vou visitá-lo", disse ele.
Quando entrou no quarto do doente, Rabi Akiva notou que o chão estava cheio de pó.
"Varram!" - ordenou aos alunos. Quando o quarto ficou limpo, o aluno doente se sentiu bem melhor, e agradeceu a Rabi Akiva.
A proprietária da casa viu que o famoso Rabi Akiva viera visitar o aluno que era seu inquilino. "Deve ser um discípulo importante!" - pensou.
Imediatamente, trouxe-lhe uma sopa nutritiva e começou a cuidar bem dele. Em pouco tempo, o aluno, que tinha estado à beira da morte, se recuperou.
"Agora vocês podem ver como é grande a mitsvá de visitar os doentes!" - ensinou Rabi Akiva aos seus alunos. "Em primeiro lugar, ao visitarmos uma pessoa doente, vemos o que ela necessita para poder ajudá-la. Mais ainda, um visitante que vê um homem doente e fraco deitado na cama, reza: 'Por favor, D'us, faça-o melhorar!' Desta maneira ajuda-o a ficar curado.
"Um visitante também anima a pessoa doente, e assim ela pára de pensar em suas dores e sofrimentos. De certa forma, o visitante leva embora uma parte da doença.

 Avraham serve aos anjos. Eles predizem que Sara terá um filho


Quando Avraham notou três homens caminhando na estrada, encheu-se de alegria. Apesar de suas dores, levantou-se e correu ao seu encontro.
Avraham curvou-se perante eles. "Por favor não passem sem entrar na minha tenda", implorou. "Pedirei para alguém trazer água, para que vocês possam lavar o pó de seus pés. Então, poderão comer um pouco de pão, agradecer a D'us, e continuar seu caminho."
Os anjos concordaram.
Um deles, Refael, foi mandado por D'us para curar Avraham. Tão logo este anjo aproximou-se de Avraham, as dores que sentia por causa do berit milá desapareceram!
Avraham ordenou aos servos que trouxessem água.
"Depois de que lavarem os pés," disse aos anjos, "venham descansar sob a minha árvore. A refeição logo ficará pronta."
Nossos Sábios explicam: A árvore maravilhosa de Avraham
Avraham tinha uma árvore especial. Ela testava todos os convidados. Se a pessoa que se sentava debaixo dela tivesse um coração puro, a árvore estendia seus ramos e proporcionava-lhe uma sombra deliciosa e refrescante. Mas a árvore não estendia os ramos sobre uma pessoa perversa, cujo coração estivesse profundamente ligado à idolatria.
Avraham convidava todos seus hóspedes a sentar-se sob a árvore. Se a árvore desse sombra ao convidado, Avraham sabia que era uma boa pessoa. Então conversava com ele durante muitas horas, e não o deixava sair da tenda antes de convencê-lo a servir a D'us.
Avraham serve seus convidados
Avraham correu para dentro da tenda e informou alegremente à Sara, "Chegaram visitas! Rápido, asse pães para a refeição!"
(De acordo com algumas opiniões de nossos Sábios, os anjos chegaram à casa de Avraham na véspera de Pêssach de manhã bem cedo, quando ainda era permitido assar pão. Existe uma opinião diferente, de que os anjos chegaram durante Pêssach, e Avraham ordenou a Sara para assar matsot, pão ázimo.)
Enquanto isso, Avraham correu para matar três vitelas tenras. Dificilmente, os três visitantes iriam comer carne de três vitelas inteiras. Isso seria demais para eles! Mas Avraham não fazia economia quando se tratava de servir seus hóspedes. Queria que cada convidado saboreasse a parte mais deliciosa da vitela - a língua. Por isso, matou três animais, para poder servir a cada convidado uma língua inteira.
Avraham chamou seu filho Yishmael. "Apresse-se para preparar a carne." Avraham não queria que as visitas esperassem demais pela refeição.
Os três anjos receberam uma refeição deliciosa. Primeiro saborearam creme e leite, e mais tarde, foi servida a língua tenra com mostarda.
Um dos anjos prediz que Sara terá um filho
Quando os anjos terminaram a refeição, perguntaram a Avraham: "Onde está Sara?"
"Está na tenda", respondeu Avraham.
Sara era uma mulher recatada. Não saía para se mostrar perante estranhos, mas permanecia dentro da tenda.
Um dos anjos anunciou: "Tenho uma mensagem para Sara. No próximo ano, nesta época, Sara terá um filho! Voltarei para celebrar com vocês o berit milá de seu filho."
Sara ouviu a mensagem, de dentro da tenda. Não sabia que o homem que falava era um anjo; parecia um viajante comum. Ela riu consigo mesma. "Avraham e eu somos velhos," pensou. "Como ainda poderemos ter filhos?"
D'us ficou aborrecido por Sara ter rido. D'us falou para Avraham: "Existe algum milagre que seja difícil demais para D'us realizar? No próximo ano, em Pêssach, Sara terá um filho."
Os três anjos se levantaram. Um deles voltou para o céu, e os outros dois dirigiram-se a pé para a cidade de Sodoma.

As leis cruéis de Sodoma

D'us disse: "Destruirei a cidade de Sodoma e suas cidades vizinhas - Gomorra (Amorá), Admá, Tsevoyim e Tsoar. Estão cheias de pessoas perversas."
Os cidadãos de Sodoma e das outras cidades eram orgulhosos e egoístas. Suas leis cruéis demonstravam como eram perversos. Eis aqui algumas de suas leis:
• É proibido alimentar um pobre.
• Os moradores de Sodoma tinham outro costume mesquinho: Quando um pobre chegava a Sodoma, cada cidadão costumava dar-lhe uma moeda, na qual estava gravado o nome do dono. O pobre pegava as moedas com alegria, mas ninguém lhe vendia comida por estas moedas. Assim, o pobre homem morria de fome. Então todos recuperavam suas moedas de volta. Esta era a única "caridade" permitida pelas leis de Sodoma.
• Ninguém pode convidar um desconhecido para sua casa.
• Qualquer desconhecido que passe por Sodoma será maltratado e roubado.
Os habitantes de Sodoma viviam felizes com essas leis horríveis! "Queremos cuidar do nosso dinheiro. Se nós convidarmos hóspedes ou dermos de comer aos pobres, perderemos nosso dinheiro", diziam.
Certa vez, duas moças de Sodoma foram ao poço tirar água.
"Porque você está tão pálida?" - perguntou uma para a outra. A outra sussurrou bem baixo, para que ninguém mais pudesse ouvir: "Não temos comida em casa! Vamos todos morrer."
Quando a amiga ouviu isso, ficou com pena. Correu para casa e encheu um jarro com farinha. Trocaram os jarros, assim uma recebeu o jarro com farinha e a outra levou para casa um jarro com água.
Mas alguém as observou. Informou aos juízes de Sodoma sobre a ação bondosa da moça. E o que fizeram esses juízes? Mataram a moça piedosa, por haver violado as "leis de Sodoma".
O povo de Sodoma costumava roubar seus próprios ricos, da seguinte maneira: levavam o rico para a parede de um pardieiro. Todos se juntavam e derrubavam a parede sobre ele, deste modo ele ficava soterrado sobre os escombros e morria. Depois, dividiam o dinheiro entre si.
Se um homem batia em outro e o fazia sangrar, o juiz decidia que a pessoa ferida devia pagar honorários médicos ao atacante, por prestar o serviço chamado "sangria" que os médicos costumavam executar.
Avraham reza por Sodoma
D'us disse a Avraham: "As almas das pobres pessoas que morreram de fome em Sodoma e das pessoas que foram roubadas pedem-Me para que Eu castigue esta cidade de malvados.
"Descerei junto com meus anjos para ver se o povo de Sodoma merece ou não ser destruído."
Avraham tinha pena de todas as pessoas. Tinha esperanças de poder salvar até mesmo esses perversos.
Rezou, "D'us, o Senhor é o Juiz do mundo inteiro. Se destruir o povo de Sodoma, todos alegarão: 'D'us é um D'us que mata pessoas.' Por favor não seja rigoroso no Seu julgamento! Certamente também há pessoas boas em Sodoma. Pretende destruí-las junto com os perversos?!"
D'us respondeu: "Todos os habitantes de Sodoma e das outras quatro cidades são perversos."
Avraham implorou: "Talvez haja apenas cinqüenta tsadikim (justos) entre eles. Não poderias, D'us, perdoar todo o povo de Sodoma, por causa da retidão dos cinqüenta bons que vivem lá?"
D'us respondeu: "Se lá houvesse cinqüenta tsadikim, salvaria todo povo de Sodoma e das outras quatro cidades, em consideração a eles, mas não há!"
Avraham voltou a suplicar: "Mas talvez haja quarenta e cinco pessoas boas! Não seriam elas suficientes para salvar todas?"
D'us respondeu: "Sim, mas também não há quarenta e cinco pessoas justas!"
Avraham exclamou: "Então talvez haja quarenta tsadikim!"
D'us respondeu: "Não há sequer nem quarenta pessoas boas em Sodoma e nas outras cidades!"
Avraham não desistiu. Continuou rezando para que D'us salvasse as cidades perversas por causa de alguns tsadikim que viviam ali. Finalmente, ouviu de D'us que não havia nem mesmo dez pessoas boas em Sodoma e suas cidades vizinhas. Avraham então parou de rezar, porque compreendeu que "D'us é um Juiz justo." Está destruindo cidades porque todos seus cidadãos são perversos.
Os anjos que D'us enviou para destruir Sodoma e salvar Lot estavam aguardando, para ouvir se Avraham seria ou não capaz de salvar Sodoma com suas orações. Quando Avraham parou de tentar, prosseguiram viagem, para destruir as cidades depravadas.

 
Lot convida os anjos para sua casa

Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer. Tinham aparência de homens.
Lot reparou neles na rua, e pediu, "Venham passar a noite em minha casa! Mas cheguem secretamente, por um desvio, porque se as pessoas daqui descobrirem que tenho hóspedes, me matarão. Não passem a noite na rua!"
"Deixe-nos ficar na rua," responderam os anjos. "É muito perigoso para você nos convidar para entrar!"
Mas Lot insistiu. Aprendera com Avraham a ser hospitaleiro. Finalmente, os anjos concordaram em ir para sua casa.
Lot assou matsot para seus convidados. Depois, disse à sua mulher: "Por favor dê sal aos nossos convidados para que temperem a comida."
A mulher de Lot estava muito zangada por seu marido ter trazido convidados à sua casa. Pensou: "Basta que lhes dá comida, não precisam de sal para deixá-la saborosa. Podem muito bem passar sem sal!"
A mulher de Lot queria que suas vizinhas soubessem que Lot havia convidado pessoas, mas tinha medo de seu marido. Então, usou o sal como desculpa. Disse para Lot, "Vou pedir sal emprestado!"
Foi de uma vizinha a outra dizendo: "Temos hóspedes. Você nos emprestaria um pouco de sal para pôr em sua comida?"
Isso era justamente o que o povo de Sodoma precisava ouvir! Todos correram para a casa de Lot, e cercaram-na por todos os lados.
"Entregue-nos seus hóspedes, Lot!" - gritavam eles. "Queremos fazer com eles o que fazemos com todos os forasteiros!"
Lot apareceu na porta da casa. "Por favor, meus irmãos," implorou para as pessoas: "Não façam mal a meus hóspedes! Em vez disso, dar-lhe-eis minhas duas filhas solteiras!"
"Não, queremos seus hóspedes!" - responderam os moradores de Sodoma.
"Se não os der para nós, arrombaremos a porta e entraremos à força!"
Os anjos fizeram Lot entrar na casa e fecharam a porta. Então, castigaram todas pessoas ao redor da casa com cegueira. De repente, o povo de Sodoma não conseguia mais achar a porta. Ainda assim, não desistiram de sua busca. Eram tão perversos que continuaram procurando a porta, mesmo cegos! Não desistiram até que caíram de cansaço.
D'us destrói Sodoma
Os anjos revelaram a Lot: "Em breve, D'us vai destruir esta cidade perversa! Pegue sua família e fuja!"
Lot começou a juntar seu dinheiro e seus bens para levá-los consigo. Os anjos o avisaram: "Não há tempo para isso! Se demorar, também morrerá!"
Mas Lot não queria deixar seus haveres para trás. Quando os anjos viram que ele estava se demorando, pegaram-no, com a mulher e as duas filhas solteiras pela mão, e os levaram às pressas para fora da cidade.
Os anjos advertiram: "Não parem! Continuem andando, e jamais olhem para trás!"
Porque não era permitido a Lot e sua família olhar para trás?
Lot não era tão tsadic que merecesse ser salvo. D'us o salvou, e à sua família, somente pelo mérito de Avraham. Como Lot e sua família mereciam ser castigados, não lhes era permitido ver o castigo dos outros.
Logo que Lot e sua família estavam fora da cidade, começou a cair uma chuva do céu. Quando esta alcançou Sodoma e as cidades vizinhas, transformou-se em piche e fogo. O fogo destruiu tudo. Ninguém conseguiu escapar. Quando as pessoas começavam a correr, seus pés ficavam atolados no piche.
A mulher de Lot tinha curiosidade para ver o que tinha acontecido com sua casa e voltou-se para trás. Imediatamente, transformou-se numa estátua de sal. Podemos adivinhar porque D'us a transformou em sal? Esse foi o castigo que ela mereceu por sua maldade, quando fingiu pedir emprestado sal para seus hóspedes.
No sul da Terra de Israel, ainda podemos ver a região onde Sodoma foi destruída. Lá não há nenhuma vegetação. A água do Mar Morto, o Yam Hamelach, é tão cheia de sal que não se pode afundar nela. Nossos Sábios estabeleceram berachot (bênçãos) especiais que se diz quando se vê o pilar de sal em que era a mulher de Lot foi transformada.


Lot e suas filhas


O anjo disse a Lot: "Fuja para a montanha onde vive Avraham." Mas Lot temia voltar à vizinhança de Avraham, pensando: "Quando vivia entre o devasso povo de Sodoma, D'us comparou-me a este, julgando-me relativamente justo, e por isso salvou-me. Porém se mudar-me para as vizinhanças de Avraham, o tsadic, serei considerado perverso, se comparado a ele." Sendo assim, Lot rogou a D'us para que poupasse a cidade de Tsoar, a fim de que pudesse para lá escapar. "Tsoar tem menos pecados que Sodoma," argumentou, "uma vez que foi povoada mais recentemente." D'us concedeu-lhe o pedido e, em sua consideração, não destruiu a cidade de Tsoar. Lot foi assim recompensado por ter-se desviado de seu caminho para convidar os anjos, e por ter se colocado em perigo por causa dos anjos. Em troca, agora D'us o favoreceu, salvando Tsoar.
O anjo ordenou a Lot: "Apresse-se e fuja para Tsoar, pois não posso destruir Sodoma antes que você chegue lá!" Lot e suas filhas apressaram-se para Tsoar, porém não permaneceram. Lot temia estabelecer-se naquela cidade, porque ficava muito perto de Sodoma. Em vez disso, mudou-se com as filhas para uma caverna nas montanhas, desconsiderando, assim, as palavras do anjo que lhe ordenou refugiar-se em Tsoar. Como conseqüência, sucedeu-se a vergonhosa história dos eventos ocorridos na caverna.
Duas grandes mulheres estavam destinadas a descender das filhas de Lot: Rut, a mulher moabita que viria a ser a ancestral da dinastia de David e, em última análise, de Mashiach; e Naama, a mulher amonita que se casaria com o rei Salomão, e tornar-se-ia mãe do rei Rechavam. As filhas de Lot puderam sobreviver à aniquilação em consideração às duas preciosas almas - Rut e Naama - que mais tarde delas viriam a brotar.
Ambas as filhas de Lot eram justas e virtuosas, e aprenderam a amar a D'us na casa de Avraham. Após testemunharem a destruição de quatro grandes cidades, e a terra engolir todos os habitantes de Tsoar (apesar de não ter sido destruída, como Sodoma), as filhas de Lot ficaram com a impressão de que um segundo Dilúvio havia varrido a terra, deixando-as como únicas sobreviventes. "Nosso pai está velho," disse a irmã mais velha para a mais nova, "e poderá morrer. A não ser que um filho varão lhe nasça em breve, a raça humana perecerá! As filhas de Lot agiram por amor ao Céu. Encontraram vinho na caverna, o qual D'us preparara especialmente para essa finalidade, pois queria que ambas as nações, Amon e Moav, viessem a existir. Permitiram que o pai se embriagasse, e seduziram-no. A primeira deu o exemplo, e a mais jovem seguiu-o.
Ao contrário das filhas, Lot sabia, através dos anjos, que a destruição afetaria apenas determinado número de cidades, e não o mundo inteiro. Mais ainda, apesar de estar embriagado e não ter consciência do que fazia na primeira noite, pela manhã percebeu, e soube o que acontecera. Não obstante, permitiu-se embriagar-se novamente, sabendo perfeitamente quais seriam as conseqüências
Ambas engravidaram e deram à luz filhos varões.
A mais velha era tão desavergonhada e impudente que deu ao filho um nome que indica claramente sua ignominiosa paternidade. O nome Moav vem de "Me'av", "do pai." A mais nova, contudo, deu a seu filho o nome de Amon, que significa "filho de meu povo", desta forma, ocultando pudicamente seu pai. Foi recompensada na época de Moshê, quando D'us ordenou que o povo judeu não incitasse guerra contra Amon.

Avimêlech, o rei dos pelishtim leva Sara para seu palácio

Depois que Sodoma foi destruída, Avraham decidiu sair daquela vizinhança. Pensou: "Ali não vai mais haver viajantes a quem eu possa oferecer refeições em minha tenda, e a quem eu possa transmitir ensinamentos."
Avraham e Sara viajaram para a terra dos filisteus (pelishtim). Apesar dos filisteus não serem tão maus como os egípcios, Avraham preveniu Sara: "É melhor dizer a todos que somos irmãos."
O rei Avimêlech ouviu falar de Sara. Ordenou aos soldados que a trouxessem ao seu palácio.
Sara rezou à D'us para enviar um anjo para protegê-la. D'us mandou uma praga para o rei Avimêlech e sua família.
Naquela noite, D'us apareceu em sonho ao rei Avimêlech, e o advertiu "Hei de puni-lo com morte, porque trouxeste Sara para o seu palácio. Ela é uma mulher casada!"
Avimêlech defendeu-se: "O que fiz de errado? Sou um tsadic. Tanto, Avraham como Sara disseram-me que são irmãos. Se me castigar com a morte, Avraham também merece morrer! A culpa é dele."
D'us repreendeu Avimêlech: "É verdade que não sabias que Sara era casada. Porém, não tinha o direito de trazê-la à força para o palácio. Isso foi um sequestro e mereces a morte por isso. Devolve-a para o marido, do contrário morrerás!"
O rei Avimêlech retornou Sara para Avraham. Perguntou: "Não sabias que somos pessoas boas e bem educadas? Por que, em vez de contar-me a verdade, fingiste que Sara era sua irmã?"
Avraham respondeu: "Pode ser que seus cidadãos agem como pessoas boas, mas vi que eles não têm temor a D'us. Pessoas que não temem a D'us são capazes de matar para tomar minha mulher."
O rei Avimêlech deu presentes caros a Avraham para apaziguá-lo.
Avraham rezou a D'us: "Cure Avimêlech e sua família da praga." D'us aceitou a oração de Avraham e curou Avimêlech.
Avraham é hospitaleiro com todos
Avraham mudou-se para Beer Shêva, ao sul da Terra de Israel.
Lá plantou um lindo pomar, repleto de frutas deliciosas como figos, uvas e romãs.
Quando os viajantes passavam, Avraham os convidava para sentarem-se. Perguntava-lhes: "O que você gostaria de comer?" Cada viajante pedia a comida que desejava. Avraham servia a cada hóspede, mas não cobrava nada pela comida e ou serviço que prestava.
Na época de chuva, Avraham oferecia alojamento, onde passantes podiam ficar sem pagar.
Quando um indivíduo havia comido e bebido, Avraham dizia, "Agora, recite uma bênção de agradecimento!"
"O que devo dizer?" - perguntava o convidado. Avraham ensinava: "Diga: 'Abençoado seja D'us, Rei do universo, Cuja comida comemos!.'"
Desta maneira, Avraham fez o Nome de D'us conhecido no mundo todo. Milhares e milhares de pessoas começaram a acreditar em D'us e rezar para Ele.


O nascimento de Yitschac e o banquete que Avraham fez quando Yitschac foi desmamado


Sara deu a luz a um menino em Pêssach, um ano depois que os anjos visitaram a tenda de Avraham. Sara tinha noventa anos e Avraham cem anos quando seu filho veio ao mundo. Era um grande milagre que eles tivessem um filho na velhice.
Avraham e Sara disseram: "Todas as pessoas que ouvirem que tivemos um filho se alegrarão." Deram o nome de Yitschac ao recém-nascido.
Quando Yitschac completou oito dias, Avraham lhe fez a milá (circuncisão).
Sara amamentou Yitschac até os dois anos de idade. Quando o desmamou, Avraham deu uma festa.
Algumas pessoas diziam: "Avraham e Sara nunca tiveram um bebê. São velhos demais. Devem ter levado um bebê estranho para casa e contado a todos que era seu próprio filho!"
Por isso, Avraham instruiu Sara: "Amamente os bebês de todas as mulheres que vierem para a festa! Assim verão que D'us transformou você numa jovem mulher e Yitschac é nosso verdadeiro filho!"
Sara amamentou todos os bebês que foram levados a ela. Agora, todos acreditaram que D'us realizara um maravilhoso milagre para Avraham e Sara.
Avraham manda embora Yishmael e Hagar
O pequeno Yitschac cresceu junto com seu meio-irmão mais velho, Yishmael, filho de Hagar.
Yitschac prestava atenção a tudo que Avraham lhe ensinava. Mas Yishmael zombava do que Avraham lhe ensinava. Trazia ídolos para casa e os cultuava. Avraham não percebeu isso, mas Sara sim.
Um dia Sara observou uma briga entre Yishmael e Yitschac. Yishmael se vangloriou: "Sou o primogênito. Terei uma porção dobrada dos bens de Avraham." Yitschac respondeu: "Mas, eu é que sou o filho de Sara. Mereço herdar tudo o que Avraham possui."
Yishmael e Yitschac correram juntos para o campo. Yishmael sacou seu arco e flecha e disparou contra Yitschac.
Quando Sara o repreendeu, retrucou: "Estava apenas brincando."
Sara falou a Avraham: "Não é bom que Yitschac e Yishmael permaneçam juntos. Yishmael não se comporta como seu filho, mas como filho de uma mulher egípcia! Sua mãe, Hagar, deve ter-lhe ensinado a cultuar ídolos. Mande Yishmael embora junto com ela!"
Avraham ficou muito perturbado. Quem tomaria conta de Yishmael longe de casa? Talvez Yishmael ficasse até pior, longe de sua influência.
Mas D'us disse a Avraham: "Sara tem razão. Ouça tudo o que ela lhe diz. Mande Hagar e Yishmael embora. Somente Yitschac tornar-se-á o patriarca de uma nação sagrada, não Yishmael. Não se preocupe com ele; Eu o protegerei mesmo estando longe de sua casa."
Na manhã seguinte, bem cedo, Avraham fez como D'us havia lhe ordenado. Deu pão e um frasco de água para Hagar e pôs Yishmael sobre seus ombros, porque Yishmael estava com febre. Avraham os mandou embora.
Hagar e Yishmael vagaram pelo deserto. A febre queimava em Yishmael e este tinha tanta sede que logo bebeu toda a água que a mãe havia levado.
Hagar tinha medo de que seu filho morresse de sede, porque não sobrara água no frasco.
Colocou-o sob um dos arbustos que cresciam no deserto, depois afastou-se e começou a chorar.
Hagar rezou a D'us e assim como o doente Yishmael. D'us aceitou a oração do menino doente. Um anjo falou do céu: "Hagar, não temas! D'us está protegendo teu filho. Ele viverá e se tornará o pai de uma grande nação!"
De repente, Hagar viu um poço com água, no meio do deserto. Havia aparecido milagrosamente. Beberam de sua água e Hagar encheu o frasco.
Hagar e Yishmael estabeleceram-se no deserto de Paran. Yishmael tornou-se arqueiro.

Avraham está pronto para sacrificar seu filho no monte de Moriyá

D'us chamou: "Avraham, Avraham!"
"Estou disposto a fazer qualquer coisa que me peças," respondeu Avraham
"Pegue seu filho Yitschac," disse D'us, "e vá para a terra de Moriyá. Lá deverás ofertá-lo como sacrifício numa das montanhas que eu lhe mostrarei!"
Podemos imaginar como Avraham deve ter ficado chocado!
Todo pai ama seu filho. Avraham sentia um carinho especial por Yitschac, porque havia esperado por um filho até a idade de cem anos. E não tinha outro filho para tomar o lugar de Yitschac.
Avraham também se lembrou da promessa de D'us que Yitschac teria tantos descendentes quanto as estrelas do céu. Agora essa promessa não se cumpriria.
Mas Avraham não fez perguntas a D'us. Pensou: "Qualquer coisa que D'us me pede farei sem questionar."
Avraham não sabia como contar para Sara que D'us queria que Yitschac fosse sacrificado. Ela ficaria tão triste, partiria o seu coração.
Portanto, disse a Sara: "Nosso filho cresceu. É tempo de ele estudar Torá. Amanhã vou levá-lo para a Yeshivá de Shem."
"Faça como você diz," respondeu Sara. "Mas por favor não o deixe lá por muito tempo, pois não posso aguentar a separação. Cuide bem dele no caminho."
Sara preparou bonitas roupas para Yitschac utilizando os trajes que o Rei Avimêlech lhe havia dado. Ela também preparou provisões para a viagem.
Pela manhã bem cedo, Avraham selou pessoalmente seu burro. Ordenou ao filho Yishmael, que estava então de visita na casa de Avraham, e ao seu servo Eliêzer, que os acompanhassem.
Avraham rachou lenha (para tê-la pronta para o sacrifício) e colocou-a sobre o burro. Chamou Yitschac, e partiram juntos.
Durante a jornada, Satan, o anjo que tenta persuadir as pessoas a não obedecer a D'us, apareceu a Avraham e Yitschac.
Primeiro Satan se apresentou a Avraham como um homem velho. Falou um pouco com Avraham, até que este lhe contou aonde estava indo, e por quê.
Depois, perguntou, "Você não está sendo tolo por ir matar um filho que nasceu em sua velhice? Não é possível que D'us lhe tenha ordenado fazer isso. Ele não lhe daria uma ordem tão cruel!"
Mas Avraham compreendeu que essas eram idéias e argumentos de Satan.
"Deixe-me em paz!" - gritou, e o anjo desapareceu.
Satan então apareceu a Yitschac como um rapaz jovem e bonito.
"Você sabe para onde seu velho e tolo pai o está levando?" - perguntou. "Para o sacrifício! Morrerás jovem!"
"Pai!" - Yitschac chamou Avraham. "Você ouviu o que esse rapaz estava me dizendo?"
"Tome cuidado com ele", Avraham preveniu a Yitschac. "Não lhe dê ouvidos! É Satan, o anjo do mal, que quer que desobedeçamos a mitsvá de D'us!" Avraham gritou de novo com Satan, e este se foi.
Satan tentou de outro modo. Transformou-se num grande rio, bloqueando o caminho. Avraham e Yitschac avançaram rio adentro até que a água alcançou seus pescoços e aí ficaram com medo.
Então Avraham compreendeu que tudo aquilo era um teste para eles. "Aqui nunca houve rio algum," disse para Yitschac. "Isso é obra de Satan".
"D'us, tire Satan de nosso caminho", implorou Avraham. "Estamos tentando cumprir a Sua ordem."
Satan foi embora e o rio voltou a ser terra seca.
Depois de caminhar por três dias Avraham avistou a montanha sobre a qual a nuvem da Shechiná (Divindade) pairava, e assim soube para qual montanha dirigir-se com o seu filho.
Avraham disse a Yishmael e Eliêzer: "Fiquem aqui aos pés da montanha. Eu e Yitschac subiremos, prostrar-nos-emos perante D'us e voltaremos para onde vocês estão."
Avraham, sem saber, havia dito a verdade! Tanto ele como Yitschac realmente voltariam da montanha!
Avraham pôs a lenha da fogueira nos ombros de Yitschac, e juntos subiram a montanha.
Yitschac perguntou-se. Havia uma faca e fogo, mas nenhum animal para o sacrifício! Havia suspeitado da verdade antes, mas agora tinha quase certeza.
"Pai," perguntou Yitschac, tremendo, "Vejo o fogo e a madeira, mas onde está o animal para o sacrifício?"
"Já que você me pergunta", respondeu Avraham, "vou lhe contar. D'us escolheu você para o sacrifício, meu filho."
"Eu vou me deixar sacrificar de bom grado," disse Yitschac sem hesitar. "Mas me dói pensar no sofrimento da minha mãe quando souber de minha morte."
Quando chegaram ao local assinalado, Avraham construiu um altar e dispôs a madeira sobre ele. Depois Avraham colocou Yitschac sobre o altar por cima da madeira. Yitschac pediu a ele para amarrar suas mãos e pés firme para não empurrar ou chutar e com isso, estragar o sacrifício. Lágrimas escorreram dos olhos de Avraham, enquanto estendia sua mão empunhando a faca para matar seu filho. Mas em seu coração estava feliz por obedecer a D'us.
No céu, D'us ordenou ao anjo Michael: "Rápido, diga para Avraham parar!"
"Avraham, Avraham," chamou o anjo Michael. "Não mate seu filho!"
Avraham sentiu um súbito desapontamento.
"Vim até aqui, ergui o altar e preparei o sacrifício, tudo em vão?" - perguntou ele. "Permita-me fazer um pequeno corte nele com minha faca, para mostrar que estava disposto a sacrificá-lo."
"Não o machuque!" - ordenou o anjo.
Avraham rezou a D'us: "Por que então me ordenaste oferecer meu filho em sacrifício?"
D'us respondeu, "Somente ordenei, 'leve-o para o monte de Moriyá', porque queria comprovar se você me obedeceria. Passaste no teste. Mostrei a todos povos do mundo que tsadic você é!"
Avraham sentiu um vazio. Viera especialmente para oferecer um sacrifício; e de repente, não tinha nenhum para ofertar a D'us.
Então, D'us fez aparecer um carneiro, a uma pequena distância de Avraham. Seus chifres estavam enredados nos arbustos. Avraham o pegou e o sacrificou sobre o altar.
Ele suplicou a D'us: "Por favor, D'us, aceite este sacrifício como se tivesse sacrificado meu filho!"
Avraham profetizou: "Sobre esta montanha, onde atei Yitschac, um dia será construído o Templo Sagrado (Bet Hamicdash). Aqui a Shechiná será revelada ao povo judeu. Como eu estava disposto a sacrificar Yitschac, D'us aceitará as orações e sacrifícios do Povo de Israel."
D'us sempre recorda o grande mérito do sacrifício de Yitschac.
É quase inacreditável que um homem que teve um filho único em sua velhice, e a quem D'us muitas vezes prometera que teria muitos descendentes deste filho, estivesse disposto a sacrificá-lo para D'us, sem queixas ou perguntas.
Especialmente em Rosh Hashaná, o dia em que D'us nos julga, mencionamos em nossas rezas:
"D'us, por causa do sacrifício de Yitschac, julgue todos os judeus com misericórdia. Assim como Avraham atou seu filho ao altar e subjugou a sua piedade para cumprir Tua vontade, assim D'us, sê misericordioso para conosco mesmo se nós O encolerizamos!"
Por que tocamos shofar, um chifre de carneiro, em Rosh Hashaná? Para que D'us tenha misericórdia de nós, pelo mérito de Avraham que estava disposto a sacrificar seu único filho.